O norte-americano Christopher McQuarrie conseguiu o inesperado em Efeito Fallout, sexto filme da franquia Missão: Impossível, em cartaz no Brasil desde a última quinta-feira. O cineasta, vencedor do Oscar de melhor roteiro original por Os Suspeitos (1995), se superou! O novo longa é melhor do que o capítulo anterior, Nação Secreta (2015), que para muitos críticos havia sido o mais bem-sucedido da série estrelada por Tom Cruise.
Inaugurada em 1996, sob a direção do mestre Brian De Palma, a franquia, adaptação do seriado televisivo homônimo de sucesso nos anos 1960-70, Missão: Impossível chega a esse sexto episódio sem quaisquer sinais de cansaço. Pelo contrário: unanimidade de crítica, já é grande êxito comercial e, desde sua estreia mundial, no fim de semana passado, arrecadou mais de US$ 184 milhões ao redor do planeta. E Cruise, aos 56 anos, também se mostra em grande forma física, mais “astro” do que nunca.
Como em Nação Secreta, Hunt se aproxima aqui da figura de um James Bond nos quesitos charme e sedução, mas, desta feita, um pouco mais sombrio, se aproximando da encarnação Daniel Craig do espião britânico. O personagem de Cruise precisa, mais uma vez, lidar com o vilão terrorista Solomon Lane (Sean Harris, da série Os Bórgias), que ele deixou escapar no último filme, e se vê forçado a trabalhar ao lado do agente especial da (organização rival) CIA August Walker (Henry Cavill, o atual Superman), com quem vive uma relação para lá ambígua. Em alguns momentos, são parceiros, noutros competem um com o outro. Além dessa briga de egos, há também entre os dois um clima de latente e velado homoerotismo.
Efeito Fallout, contudo, também não foge à regra dos filmes de espionagem, e brinca com as convenções do gênero de forma bastante inventiva.
Em uma das grandes, entre muitas, sequências de ações do filme, Hunt e Ethan, na busca por um inimigo comum, protagonizam um longo jogo de sedução e pancadaria, cuidadosamente coreografado e conduzido por McQuarrie com maestria num banheiro masculino em Paris. A brincadeira vai tão longe que, em determinado momento, um grupo de desavisados chegam a pensar que os dois e o terceiro espião que perseguem estão participando de uma orgia num dos vestíbulos do sanitário.
Efeito Fallout, contudo, também não foge à regra dos filmes de espionagem, só que brinca com as convenções do gênero de forma bastante inventiva. Além da rivalidade entre agências de espionagem, não falta o bom e velho artifício Scooby-Doo dos disfarces, em que vilões são desmascarados, os acertos de contas do passado, sempre sob a toada da ambiguidade, e, é claro, a martirização do herói – Hunt nunca sofreu tanto. Física e emocionalmente – desde Protocolo Fantasma (2011), quarto filme da franquia, ele é impedido de ver a mulher, Julia (Michelle Monaghan), sob o risco de que ela seja morta. Todas possibilidades de amor, a partir de então, lhe são vedadas, embora a personagem de Ilse (Rebecca Ferguson) ressurja para mexer com o seu emocional.
Mais do que a trama – muito bem amarrada, por sinal -, Efeito Fallout tira mesmo sua força da forma extraordinária como o enredo se materializa em vertiginosas sequências de ação, encenadas e editadas com genialidade. Elas vão muito além do exibicionismo e da pirotecnia técnica e têm real função dramática. Além da já citada, que se desenrola no mictório dos homens, há um embate entre helicópteros mais para o desfecho da trama que é um verdadeiro duelo épico, digno dos melhores westerns, tamanha enorme potência dramática, sem falar de uma correria entre prédios em Londres que também é de tirar o fôlego. Mais detalhes arruinariam a experiência do espectador.
Em meio a tudo isso, Tom Cruise, um dos grandes astros de cinema de seu tempo, e um ator com carreira irregular, cheia de acertos mas também muitos erros, emerge em 2018 como um dos símbolos mais longevos de Hollywood. No veículo adequado para seus talentos, é um prazer imenso vê-lo em cena, porque brilha como poucos. E esse é, sem dúvida, o caso de Missão: Impossível – Efeito Fallout.
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