Em uma das primeiras cenas de A Casa da Colina (1999), o magnata do entretenimento Stephen Price (Geoffrey Rush) simula a queda de um elevador para assustar uma equipe de reportagem, que acompanha a inauguração de uma roda gigante. Diante do truque, os jornalistas agem com espanto enquanto o personagem baixa os óculos e diz para as câmeras que, dali em diante, as coisas ficaria realmente assustadoras.
De fato, a brincadeira estava apenas começando. Para a festa da esposa, Price planejava criar uma festa cheia de sustos bem elaborados, que provem sua criatividade em provocar o público. Isso antes de aparecerem os fantasmas, é claro. Em muitos sentidos, o personagem de Rush acaba sendo uma homenagem justa da produção – e do incompetente diretor William Malone – ao cineasta William Castle, responsável por comandar o filme A Casa dos Maus Espíritos (1959), que se transformaria nessa pilantra refilmagem de 1999.
Castle era conhecido por criar artifícios (gimmicks) para ampliar a experiência de horror no público. Nas sessões do longa-metragem de 1959, durante uma das cenas em que o personagem de Vincent Price empurra um esqueleto para assustar uma mulher, uma ossada humana real era jogada no meio do público para intensificar o medo gerado pelo que se via na tela. Essa não seria a primeira vez que esse tipo de recurso seria usado pelo artista.
Castle parece ver a si mesmo como o maquinista de um trem-fantasma. Seu filme é cheio de truques, que são reforçados por artifícios externos usados para assustar ainda mais o público.
Para promover o filme Macabro (1958), um de seus primeiros títulos, Castle criou uma apólice de seguro para garantir o futuro dos entes daqueles que, por ventura, viessem a morrer durante a exibição da obra. Em Força Diabólica (1959), ele inventou um mecanismo chamado de percepto, que vibrava cada vez que o monstro circulava nos pés dos personagens.
O gimmick de A Casa dos Maus Espíritos se chamava “Emergo”. Apesar de o recurso ser sempre lembrado em discussões sobre o título, parece consenso o fato de que o cineasta nem precisaria desses artifícios para criar uma trama assustadora. Sem elementos sobrenaturais e atores populares (à exceção de Price, evidentemente), o filme se constrói em cima de truques de câmera, reviravoltas na trama e cortes abruptos de cenas, entre outros aspectos.
Logo no início da projeção do título cinquentista, somos brindados com uma tela preta, sons de gritos e ranger de portas. O personagem Watson Pritchard (Elisha Cook Jr.) nos alerta para não prosseguir com nosso passeio pela casa da colina assombrada, pois é um lugar responsável por sete morte.
Após o alerta de Pritchard, surge Vincent Price, que vive o protagonista, para explicar ao público a trama do filme. Como na refilmagem, um milionário decide comemorar o aniversário da esposa levando quatro desconhecidos a uma casa mal assombrada. Suas motivações são obscuras e seus métodos pouco convencionais. Para atrair os convidados, ele oferece dez mil dólares a quem chegar vivo ao fim da noite.
Como um anfitrião sádico de parques de diversões, o personagem – e Castle – leva suas vítimas – e o público – para uma trama cheia de sombras e sustos. É como se o diretor estivesse recriando um trem-fantasma, no qual a última curva é aquela em que o esqueleto salta para espantar as pessoas dentro e fora da tela.
A Casa da Colina é um filme mais limitado porque, apesar de homenagear Castle de forma competente, efeitos visuais e fantasmas em computação gráfica são incapazes de refletir o clima da trama original. Diante desses artifícios baratos do cinema de horror contemporâneo, A Casa dos Maus Espíritos continua um clássico. A refilmagem de 1999, porém, está fadada ao esquecimento.