Uma pesquisa recente da Universidade de Columbia descobriu que o medo de aranhas pode ser um instinto primitivo do ser humano (leia mais). O impulso de se afastar de um aracnídeo seria uma maneira de sobreviver às picadas, que poderiam ter doses de venenos letais há milhares de anos. Evoluímos, mas não mudamos a vontade de manter distância desses monstros de oito patas.
Lançado há 25 anos, Aracnofobia parece mexer no âmago desse pavor, que faz homens e mulheres perderem o sono ao imaginar se há aranhas embaixo da cama. O filme de estreia do diretor Frank Marshall começa com uma expedição científica em uma região inexplorada das florestas venezuelanas. O britânico Julian Sands interpreta James Atherton, um especialista em aracnídeos que lidera a viagem em busca de uma nova espécie para estudos.
O prólogo é protagonizado por um fotógrafo, que acidentalmente carrega um dos novos espécimes dentro da mochila. O sujeito é picado e o corpo vai parar no necrotério de uma cidade do interior da Califórnia, onde o bicho acasala e procria. Nesse meio tempo, o médico Rose Jennings (Jeff Daniels) se muda para a região com a família. Como outras pessoas conscientes, o personagem sofre de fobia de aranhas, por isso o nome do filme.
Aracnofobia parece levar em conta a lição de Hitchcock, que dizia que uma cena de suspense deve ser filmada de modo a provocar tensão no público.
Jennings, apesar de bem sucedido, tem dificuldade em relacionar-se com os moradores de sua nova cidade. Especialmente quando seus poucos pacientes começam a morrer, por circunstâncias que parecem desconhecidas para os personagens, mas não para o espectador. Enquanto preenche a trama com o drama do médico, Marshall também perde algum tempo filmando os ataques dos aracnídeos em cenas de puro sadismo para aracnofóbicos.
Para Alfred Hitchcock, o suspense era uma construção visual baseada na tensão. Quando o espectador sabe que a bomba vai explodir, ele se prende à cadeira do cinema, explicou certa vez. Em Aracnofobia, os bichos são colocados diante da câmera à espreita dos personagens, que leem jornais, tomam banho e vestem o chinelo. Marshall parece conduzir o espetáculo com calma, como se seguisse a lição do mestre britânico à risca. Confesso que, mesmo tendo assistido ao filme algumas vezes na infância, suei frio ao revê-lo para escrever este texto.
Ainda que a trama toda seja uma fantasia, por imaginar que uma única picada seria capaz de matar uma pessoa, o fato de vermos imagens de aranhas de verdade na tela é ainda mais perturbador. Na época do lançamento, a produção chegou a irritar grupos de biólogos, que alegaram que a obra prejudicava a preservação dos aracnídeos.
O filme teve produção de Steven Spielberg, chapa de Marshall em outros projetos como Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e Hook: a Volta do Capitão Gancho (1991). Por isso, o filme não tem uma gota de sangue e pode ser visto por crianças. Há até um alívio cômico caricato no personagem de John Goodman, que vive um dedetizador arrogante de sotaque carregado. Não é por acaso que vi essa tortura na Sessão da Tarde nos anos noventa.