O movimento new horror, geração de cineastas que deram uma nova cara para o cinema de horror norte-americano, deve muito a Aniversário Macabro (1972). A produção lançou as carreiras de Wes Craven e Sean Cunningham, impactou uma geração de desiludidos e apresentou a violência crua que se tornaria uma das marcas do gênero nos anos seguintes.
Na véspera de completar 17 anos, Mari (Sandra Peabody) sai para comemorar com uma amiga (Lucy Grantham). Durante o passeio, elas abordam um desconhecido para comprar maconha. Ele as leva para um apartamento, onde encontram um grupos de marginais que as sequestram. No dia seguinte, as duas são estupradas e assassinadas. Por uma coincidência, os algozes vão pedir abrigo para os pais da aniversariante, que planejam vingança.
Antes da produção, Cunningham trabalhava para um estúdio de fitas pornográficas nos Estados Unidos. De acordo com David Grove, que discute o tema no livro Sexta-Feira 13: Arquivos de Crystal Lake, a empresa tinha negócios ilegais e vínculos com a máfia. Craven não sabia disso quando decidiu largar a carreira de professor para tentar a vida na indústria cinematográfica.
O filme traduz a desilusão de uma geração perdida, mostra a incompetência das forças policiais e esfrega a violência na cara do espectador de forma realista e crua.
Depois de alguns trabalhos juntos, a dupla decidiu arriscar tudo em um filme de horror. Os dois tinham passe livre dos produtores para chocar o público. Craven tinha experência com escrita e ficaria responsável pelo roteiro e pela direção. Na concepção do projeto, o artista usou a moral religiosa pregada pela mãe e decidiu tocar tabus e feridas escondidas da sociedade norte-americana.
Na trama, resquícios de uma desintegrada utopia hippie são vistas na desarmoniosa família de criminosos. Sem razão aparente, eles perambulam pelas cidades apagando balões de crianças e praticando roubos e assassinatos. A polícia é incompetente para resolver qualquer problema da sociedade. Os sonhos dos jovens rapidamente se tornam pesadelos.
De acordo com Jason Zinoman, autor de Shock Value: How a Few Eccentric Outsiders Gave us Nightmares, Conquered Hollywood and Invented Mordern Horror, Cunningham passou algum tempo preocupado com o que rolava na frente das câmeras de Craven. O colega parecia exagerar no tom realista da violência. Relatos dos bastidores indicam que Sandra Peabody realmente era mal tratada pelos colegas em prol da arte e tinha medo de entrar em cena.
O resultado foi algo difícil de descrever. A fotografia parecia a de um documentário barato. As atuações eram naturalistas. Aniversário Macabro não remetia a nenhum título famoso de horror produzido até então nos Estados Unidos. Os envolvidos elucubravam o efeito que a exibição teria sobre o público. O trailer anunciava: “Para evitar desmaiar, repita continuamente: é apenas um filme.”
No documentário Going to Pieces: The Rise and Fall of the Slasher Film (2006), o diretor Jeff McQueen defende que Aniversário Macabro traz as raízes do slasher, subgênero marcado pela presença de um maníaco perseguindo suas vítimas com uma faca. Não por acaso, Cunningham foi o responsável por apresentar ao mundo Jason Voorhees, em Sexta-Feira 13 (1980); enquanto Craven criou a demência de Freddy Krueger, em A Hora do Pesadelo (1984).