A pandemia do novo coronavírus alterou radicalmente a programação dos festivais de cinema fantásticos no Brasil em 2020. Sem a possibilidade de reunir o público em uma mesma sala de exibição, os eventos estão ocorrendo de forma online, de modo que o público possa assistir aos filmes em casa e em segurança.
A 16ª edição do Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre (Fantaspoa) foi o primeiro evento do tipo a ocorrer de maneira inteiramente virtual no país por meio da plataforma Darkflix, entre os dias 24 de julho e 3 de agosto. No novo formato, a programação atingiu aproximadamente 67 mil pessoas. De acordo com os organizadores, o número é sete vezes maior do que o público alcançado em 2019, no presencial. Somente Skull – A Máscara de Anhangá (2020), de Kapel Furman e Armando Fonseca, foi visto por mais de cinco mil pessoas em menos de 24 horas.
‘É muito bom poder tornar acessível para pessoas de todo o Brasil um conteúdo que foi selecionado e preparado por meses’.
“Dois diferenciais parecem ter sido os maiores motivadores para tal: gratuidade e acesso via internet a qualquer momento. É muito bom poder tornar acessível para pessoas de todo o Brasil um conteúdo que foi selecionado e preparado por meses”, comenta Nicolas Tonsho, um dos produtores do Fantaspoa.
Apesar do amplo acesso, o organizador avalia que parte da experiência se perdeu. “Sempre foi uma característica muito trabalhada por nós o contato entre convidados e público. Mesmo com lives e interações em redes sociais, o convívio com as pessoas que fazem e são fãs de cinema é o que torna a experiência tão marcante para muitos participantes.”
Para Tonsho, a experiência virtual foi uma solução pontual, que não colocou o público em risco de contágio. “Não creio que os festivais já consolidados, de gênero ou não, migrarão para o formato virtual – ao menos, não integralmente.” A manutenção das exibições online pós-pandemia só seria possível se houvesse interesse dos produtores e distribuidores dos filmes.
Cinefantasy
A 10ª edição do Cinefantasy – Festival Internacional de Cinema Fantástico seguirá pelo mesmo caminho do Fantaspoa. O evento paulista irá ocorrer entre 7 e 20 de setembro por meio da plataforma Belas Artes a La Carte e contará com a exibição de 140 filmes. O grande destaque deste ano é a estreia mundial de O Cemitério das Almas Perdidas (2020), épico de horror brasileiro dirigido pelo capixaba Rodrigo Aragão.
Para Eduardo Santana, que organiza a programação ao lado de Monica Trigo, o modelo remoto para os festivais provoca receio nos realizadores. “Tivemos filmes que não disponibilizaram exibições por causa da pirataria.” Ainda assim, ele conta que foram inscritos cerca de 780 produções.
Como Tonsho, Monica acredita na importância da troca entre o público e os realizadores, mas afirma que a edição do Cinefantasy de 2021 deverá ser uma síntese entre o presencial e o virtual. Ela também considera que o período de pandemia aproximou organizadores de diferentes festivais. “Havia pouco diálogo entre os festivais e isso mudou.” O maior exemplo disso é o surgimento da Fantlatam, a Aliança Latino-Americana de Festivais de Cinema Fantásticos, da qual é presidente.
Outros festivais
Em setembro, além do Cinefantasy, está programado para ocorrer o Rock Horror Film Festival, entre os dias 17 e 27. Na programação há animações, longas-metragens e documentários, entre outros. Até o fim de agosto está no ar pelo YouTube, a quarta edição da Mostra de Cinema Fantástico de Guarulhos (Guarufantástico), com exibição de curtas-metragens.
Outros festivais de cinema fantásticos do país que ocorrem tradicionalmente no segundo semestre ainda não tiveram seus calendários divulgados. A Crash – Mostra Internacional de Cinema Fantástico, de Goiânia, é esperada para o fim do ano. A Cine Horror, de Salvador, é prevista para dezembro, mas um dos organizadores disse à reportagem que a programação será realizada de maneira presencial e depende da pandemia. O Festival Boca do Inferno deste ano ainda não foi confirmado. O Rio Fantastik, por sua vez, não tem previsão para uma edição em 2020.
