Em 1986, durante uma viagem a Praga para tentar vender Pulgasari (1985) para o mercado ocidental, o cineasta Shin Sang-ok e a esposa Choi Eun-hee pedem asilo à embaixada dos Estados Unidos. Com isso, ambos se veem livres do governo norte-coreano, que os havia sequestrado da Coreia do Sul em 1978 para que trabalhassem na produção de filmes nacionais.
O casal, então, vai viver em Los Angeles, onde o diretor decide investir no sonho antigo de trabalhar para Hollywood. Aproveitando a popularidade de títulos como Karatê Kid – A Hora da Verdade (1984) e As Tartarugas Ninjas (1990), ele produz para a Disney a bem-sucedida franquia 3 Ninjas. Chega a mudar o nome para Simon Sheen, para ficar mais reconhecível ao público americano.
Depois disso, volta a atenção para escrever um roteiro de uma nova versão de sua malfadada fita kaiju. O novo filme se chamaria Galgameth (1996) e manteria a ambientação medieval do original e o monstro que cresce ao se alimentar de diferentes tipos de metais. O resultado, no entanto, não poderia ser mais distinto.
A refilmagem ocidental do longa-metragem norte-coreano teria Sean McNamara na direção. A trama conta a história de um jovem e covarde príncipe (Devin Oatway), cujo pai é assassinado por um guarda real que deseja tomar o poder. Antes de morrer, o rei convoca o espírito de Galgameth, uma criatura que se alimenta de ferro, para proteger o garoto.
Comparado com ‘Pulgasari’, ‘Galgameth’ parece uma piada de Shin.
A influência de As Tartarugas Ninjas pode ser sentida no visual de Galgameth, bem mais simpático do que sua contraparte oriental. No papel do monstro gigante, feito por meio da técnica de suitmotion, estava o mímico Doug Jones, que mais tarde ficaria famoso por interpretar outros seres fantásticos na obra de Guillermo del Toro.
A nova versão é voltada para o público infantil, uma das especialidades de McNamara, que comandou longas como Gasparzinho & Wendy (1998) e Zack e Cody – O Filme (2011). O remake chegou a ser vendido para o Disney Channel, antes de ser lançada para o mercado de vídeo. Aqui no Brasil, a distribuição ficou por conta da PlayArte.
Comparado com Pulgasari, Galgameth parece uma piada de Shin. Sai a metáfora sobre a luta de classes e a tomada de um poder do povo – que caracterizava o original como uma peça de propaganda Norte-Coreana – e entra um enredo conformista sobre a manutenção da monarquia. Em muitos aspectos, o enredo serve como uma cópia em negativo do original. Não há sangue, sacrifício ou reflexão sobre excesso de poder.
Se, por um lado, a refilmagem é mais organizada narrativamente, por outro ele tem pouco a oferecer ao público – pois apenas repete arquétipos e clichês de fantasias kaijus que são bem melhor desenvolvidos em outras produções semelhantes. É o caso de Coração de Dragão (1996), de Rob Cohen, lançado no mesmo ano.
No fim da década, Shin abandonaria os Estados Unidos e voltaria para a Coreia do Sul. Ele morreu em 2006. Galgameth foi um de seus últimos projetos no cinema.