O sucesso sem precedentes de King Kong vs. Godzilla (1962) nos cinemas japoneses foi um ponto de virada no modo como a Toho passou a tratar sua principal estrela, o gigante radioativo.
O monstro, antes uma metáfora para os agouros e sofrimentos do país, começou a virar ali uma criatura mais amigável, cujas histórias seriam apropriadas para o público infantil.
Nesse período de transformação do personagem durante a Era Shōwa, ele encarou o papel de vilão uma última vez em Godzilla Contra a Ilha Sagrada (1964). Com direção de Ishirô Honda, o longa-metragem é basicamente uma sequência direta de Mothra – A Deusa Selvagem (1961).
No enredo, um ovo gigante aparece em uma praia após uma devastadora tempestade. Antes que o objeto possa ser estudado por cientistas, um empresário o privatiza para construir um parque temático para atrair turistas.
Enquanto tentam reportar o caso, um grupo de jornalistas é visitado por duas fadas, que dizem que aquele é o ovo de Mothra e é preciso devolvê-lo. Se isso não ocorrer, a mariposa gigante não ajudará a humanidade quando necessário.
Algumas cenas depois, lá pela metade da projeção, aparece Godzilla – mais irritado do que nunca, destruindo tudo o que vê pela frente.
Eiji Tsuburaya produz algumas das cenas mais impressionantes da sua carreira, enquadrados com uma impressora especial acoplada à câmera, que foi adquirida pela Toho para reduzir os problemas de composição dos monstros gigantes na projeção de cenários reais.
Consciente de que não seria possível reproduzir o estilo luta-livre adotado em King Kong vs. Godzilla, pois um dos antagonistas era uma borboleta, o roteirista Shin’ichi Sekizawa aposta na dualidade da representação dos dois monstros.
O lagarto radioativo é o passado, que lembra ao Japão o peso da guerra. Mothra é a esperança de uma nação que renasce preparada para os desafios do futuro.
Godzilla Contra a Ilha Sagrada é o passo definitivo em direção à fórmula que marcaria os demais filmes da Toho durante a Era Shōwa.
Nessas narrativas, uma enorme ameaça sempre coloca a humanidade em risco enquanto outra aceitaria o papel de protetor do planeta, por vezes de maneira relutante.
O visual da obra é bastante apurado. Eiji Tsuburaya produz algumas das cenas mais impressionantes da sua carreira, enquadrados com uma impressora especial acoplada à câmera, que foi adquirida pela Toho para reduzir os problemas de composição dos monstros gigantes na projeção de cenários reais.
No Brasil, Godzilla Contra a Ilha Sagrada estreou em maio de 1968. Passou nos cinemas do Rio de Janeiro de maneira discreta. Ao contrário do que ocorreu com a maioria dos títulos da Toho da época, um crítico inclusive elogiou o longa de Ishirô Honda no Diário de Notícias.
“História de ciência e ficção, surpreende pela perfeição dos truques e efeitos especiais criados pelos fotógrafos japoneses”, escreveu um autor que não assinou o próprio texto. O resumo continua valendo para a obra, mais de cinco décadas depois.
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