A edição de junho da revista Preview, um dos únicos títulos do país ainda dedicados ao cinema, trazia um especial de seis páginas sobre o cinema de horror no Brasil. O texto dava um breve panorama sobre as produções do gênero, presentes na nossa cinematografia desde o lançamento de À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), de José Mojica Marins, o Zé do Caixão.
Assinada pelo jornalista Carlos Primati, a reportagem faz parte de uma extensa produção de memória que tem o objetivo de evitar que as pessoas repitam por aí que “no Brasil não existem filmes de horror além de Zé do Caixão”. Cineastas como John Doo, Ivan Cardoso, Dennison Ramalho, Rodrigo Aragão e Paulo Biscaia Filho, entre inúmeros outros, costumam ser “esquecidos” como referência em reportagens jornalísticas, comentários de redes sociais e no boca-boca do povo.
Felizmente, isso tem mudado. O uso da internet (e de ferramentas mágicas como o Google) nos deixa a alguns cliques dessa informação. Há cerca de três anos, quando um jornalista da Folha de São Paulo tentou alegar que o cinema de horror nacional estava morto, uma rede de diretores, fãs e pesquisadores, fez um movimento de resposta para garantir que o senso comum não passasse em branco. É preciso pesquisar antes de escrever algo assim.
Com o Google, a literatura de cinema de horror nacional e muitos dos filmes do gênero produzidos por aqui estão a um clique de distância do público.
Ainda que a literatura sobre o cinema de horror brasileiro não esteja sistematizada, há sites e blogs inteiramente dedicados ao tema. Uma das obras de maior referência para entender o horror nacional, a tese de doutorado Medo de Que? Uma história do horror nos filmes brasileiros, de Laura Cánepa, está disponível gratuitamente para consulta (leia mais aqui).
Mesmo as obras que integram o catálogo da filmografia do horror nacional não são tão difíceis de serem encontradas na web. Muitos títulos estão no YouTube. A página do Facebook Filmoteca do Horror Brasileiro (veja aqui), mantida por Primati, apresenta várias dessas obras para quem tiver interesse. Criado no início deste ano para divulgar o horror nacional, o espaço tem posts diários com links para longas e curtas-metragens, trailers e notícias sobre novos lançamentos. É muito conteúdo. Mais do que o suficiente para constranger quem insiste em negar o gênero no cinema nacional.
***
Em 2015, o número de produções de horror nacional segue alta. Conforme nos lembra Primati, na matéria da Preview, a 11ª edição do Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre (Fantaspoa) contou com a exibição de nada menos do que oito obras do gênero: O Amuleto, de Jeferson De; A Capital dos Mortos: Mundo Morto, de Tiago Belotti; Condado Macabro, de Marcos DeBrito e André de Campos Mello; Deserto Azul, de Eder Santos; As Fábulas Negras, de Rodrigo Aragão, Petter Baiestorf, José Mojica Marins e Joel Caetano; A Percepção do Medo, de Kapel Furman, Armando Fonseca e Gurcius Gewdner; Toda La Nohce, de Jimena Monteoliva e Tamae Garateguy; e 13 Histórias Estranhas, que reúne curtas de 13 diretores brasileiros.