Em 1835, um repórter The Sun, chamado Richard Adams Locke, decidiu explorar a seção de curiosidades astronômicas do jornal novaiorquino. Aproveitando o interesse dos leitores por histórias espaciais, estimuladas também pela então recente passagem do Cometa Halley, o jornalista redigiu uma matéria sobre as supostas novas descobertas científicas envolvendo o satélite lunar e a vendeu ao editor Benjamin Day. Na reportagem, ele citava a existências de homens-morcegos alienígenas que viviam no satélite.
Os pesquisadores Robert Bartholomew e Benjamin Radford, no livro The Martians Have Landed!: A History of Media-Driven Panics and Hoaxes (2012), afirmam que essa matéria acabou se tornando o início de uma série chamada “descobertas celestiais”. Os textos eram sempre recheados de detalhes científicos falsos.
Locke descrevia suas narrativas como se fossem relatórios de astronomia, emulando uma retórica jornalística de veracidade. As informações teriam sido obtidas por astrônomos sul-africanos, de uma base que ficava no Cabo da Boa Esperança, o que dificultava o trabalho de quem queria desmentir as reportagens.
Os textos descreviam a raça de habitantes da lua como seres extraordinários com asas e também dava detalhes sobre a fauna e a flora local. As matérias foram tão bem-sucedidas que o jornal decidiu produzir uma versão das reportagens em um livreto ilustrado. Na primeira edição do suplemento, havia uma ilustração que seguia as descrições das matérias anteriores e apresentava o excêntrico e estranho mundo da lua que estava reportado pelo The Sun.
O caso se tornou uma influência para as atrações bizarras do circo de horrores do empresário P. T. Barnum e fonte direta para outra farsa famosa da época, a viagem de balão à lua criada pelo escritor Edgar Allan Poe.
As vendas do livreto ocorreram bem acima da expectativa dos editores, juntamente com as do próprio jornal, que alavancaram depois que a série celestial começou a ser publicada. Bartholomew e Radford relatam que outros veículos acabaram comprando a história para não ficarem para trás, o que atribuiu mais credibilidade à farsa.
Meses depois de as primeiras matérias saírem na imprensa, um jornal concorrente publicou que os habitantes da lua eram uma invenção do The Sun, atribuindo Day e Locke como os responsáveis pela criação. Por causa da popularidade, a história continuou com um sentido de verdade por um bom tempo. Anos depois do desmentido, o livreto ilustrado com as histórias das descobertas celestiais ainda circulava pela Europa como se fosse um tratado científico.
A repercussão do caso rendeu frutos. Tornou-se uma influência direta para as atrações bizarras do circo de horrores do empresário P. T. Barnum e fonte para outra farsa famosa da época: a viagem de balão à lua criada pelo escritor Edgar Allan Poe. O episódio todo também ficou conhecido por marcar o início do jornalismo de tabloide nos Estados Unidos.
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O caso dos homens-morcegos da lua do The Sun está presente na minha exposição Casos da Zona Crepuscular, que fica aberta a visitação na Sala Leituras do Brasil, no UniBrasil Centro Universitário, em Curitiba, até o dia 20 de dezembro.