No alto do prédio mais alto do mundo, um gorila gigante segura uma mulher em suas mãos enquanto brada contra pequenos aviões que o atacam com metralhadoras de última geração. Reconhecida imediatamente por qualquer pessoa com a mínima familiaridade com a cultura norte-americana, o clímax de King Kong (1933) talvez seja um dos momentos mais deslumbrantes do cinema fantástico mundial.
A imagem criada pelos diretores Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack – com o fundamental apoio de Willis O’Brien – transformou a produção em um fenômeno visual, referenciado por décadas em diferentes produções culturais. É a síntese do potencial revolucionário da sétima arte em criar sonhos. Também serve como um símbolo de como somos pequenos diante daquilo que podemos imaginar.
Para criar uma narrativa cinematográfica de monstros gigantes, como em King Kong, é preciso pensar grande. Somente com muita ambição visual é possível criar imagens de destruição provocadas por uma grande criatura, aos moldes do gorila da Ilha Skull. Não por acaso, Godzilla (1954), O Parque dos Dinossauros (1993) e Avatar (2009) são títulos que inovaram em efeitos visuais dando vida à seres enormes e potencialmente ameaçadores.
Uma narrativa de monstros gigantes é uma carta de amor ao poder imagético do cinema. Tirá-la do papel é um ato de magia, que nos coloca diante do nosso medo primitivo de sermos pequenas criaturas neste mundo.
Mesmo produções baratas como Gorgo (1961), Reptilicus (1961) e Gamera (1965) necessitam de realizadores com confiança o suficiente para acreditar que seus efeitos especiais baseado em adereços pobres e maquetes fajutas funcionarão com o público. Quando o abutre gigante de A Ameaça Vem do Polo (1957), de Fred F. Sears, pousa sobre o Empire State, em Nova York, não há nada na tela que parece real. Ainda assim, o elenco age como se houvesse, em desespero pela destruição de uma maquete.
O terrível e infame filme de Sears é um exemplo basicamente perfeito sobre o poder atribuído ao cinema na suspensão de descrença. Ainda que o longa, desde que estreou, seja uma grande piada involuntária, existe ali uma ideia de que as imagens – uma ao lado da outra – conseguem criar um senso grandioso de destruição, que ecoa a cena de Kong bradando contra aviões no alto do mesmo prédio de décadas antes.
Uma narrativa de monstros gigantes é uma carta de amor ao poder imagético do cinema. Tirá-la do papel é um ato de magia, que nos coloca diante do nosso medo primitivo de sermos pequenas criaturas neste mundo, contra a qual poucas armas são eficazes. Acima de tudo, essas criaturas de escalas enormes são uma amostra de que nossa imaginação tem potencial para conceber coisas muito maiores do que nós.