Um filme de horror é uma promessa de emoções vibrantes, que costumam não nos deixar depois de o assistirmos. Embarcar em uma sessão do gênero é lidar com um poço de expectativas. Quando não nos assustamos, nos impressionamos ou nos admiramos com o que vemos na tela, a frustração é inevitável. Amaldiçoamos o elenco, o diretor e os demais envolvidos na produção.
Às vezes, essa mesma frustração se transforma em ira contra as pessoas que elogiam demasiadamente a obra. Como fã do gênero, enfrentei inúmeras discussões tentando entender porque alguém detesta um longa-metragem que admiro ou vice-versa. Negar que a experiência de apreciação da arte é sempre subjetiva parece uma tendência natural da cinefilia, dada a estimular debates acalorados.
Um filme de horror também é um convite para refletirmos sobre o mundo em que vivemos. Muitos desses títulos escondem pequenos comentários políticos, sociais e culturais sobre nossa realidade. Nessas histórias, identificar uma ameaça, um antagonismo religioso ou um tipo de vítima recorrente é uma maneira de entendermos como nos relacionamos uns com os outros.
Existem narrativas do gênero que exigem constantes revisões do público. Cineastas como George Romero, John Carpenter, Wes Craven, Tod Browning, James Whale, Dario Argento e Mario Bava estão sempre nos oferecendo mais em suas produções. Isso aparece nos visuais deslumbrantes de uma cena à qual demos pouca atenção, no discurso de um personagem que ganha novos significados ou no elemento de um enredo que, quando percebido, dá um novo sentido a toda trama.
O cinema de horror, como um todo, é uma maneira de entendermos nossos próprios medos. Não raro, descobrimos novos temores dentro de uma história do gênero e passamos a evitar certos hábitos na realidade. Não queremos nos arriscar a vivenciar em primeira mão as horríveis sensações que tivemos diante da tela, por mais fantasiosas que elas tenham sido.
O horror é um gênero marginalizado e transgressor. Vive na linha tênue do bom senso, frequentemente ultrapassando-a e gerando controvérsias.
Muitos filmes nos apresentam medos diferentes ao longo do tempo. Aquilo que temíamos na infância, parece ridículo agora. Um título antigo, por outro lado, pode se tornar assustador quando amadurecemos. Com uma carga de novas experiências, podemos entender melhor a gravidade do que nos é mostrado em certas cenas.
Enquanto produção cultural, o cinema de horror é misterioso. Embora estimule emoções que não queremos para nossas vidas, ele também nos leva a experimentar essas mesmas sensações como uma forma de diversão. Por isso, há quem confunda as narrativas do gênero com o próprio objeto que representam. “Horror é do mal”, dizem.
É um gênero marginalizado e transgressor. Vive na linha tênue do bom senso, frequentemente ultrapassando-a e gerando controvérsias. Costuma ser acusado de corromper a infância e é uma vítima predileta dos censores culturais, políticos, religiosos e familiares.
O cinema de horror também é plural. Esta coluna está no ar desde 2015, com textos novos publicados quase toda semana e sinto que mal arranhamos o potencial de discussão do gênero. A fonte é inesgotável, pois se renova a cada lançamento que ocorre no circuito comercial ou independente.