Os pais gostam de ler; mesmo em tempo de leitores digitais, continuam comprando livros e lotando a cabeceira e a estante de livros; alguns exemplares são adquiridos apenas pela beleza da edição… (sincericídio); aqueles livros todos adquiridos ao longo da vida tem um valor sentimental imenso; os empréstimos são feitos apenas para pessoas especiais; em todos os “amigo-secreto” ao longo da vida, o quê foi o presente? Livros.
Com a chegada de um bebê em casa, não mudamos essa parte da rotina. Os livros ficam ali, na sala, à disposição. É claro que sempre sob o olhar de um adulto, afinal, uma criança precisa de um cuidador por perto. E é claro que, diante dessa peculiaridade dos pais, a criança também já tinha uma pequena biblioteca, mesmo antes de nascer, pois todas as evidências apontam para a importância da leitura para os bebês, mesmo ainda desde o útero e, em geral, os pais tentam fazer com que a criança goste das mesmas coisas que eles.
O ritmo da voz durante a leitura, a apresentação da linguagem e a construção de narrativas são essenciais para o desenvolvimento da fala e do entendimento de mundo. Imagine a sensação de bem-estar provocada pela leitura para você, um adulto. O enredo, os personagens, as palavras… Para a criança, o momento da leitura também provoca reações como se fossem “mágicas”: é a porta de entrada para o mundo da escrita – onipresente nos nossos dias – e para o mundo das representações.
Na teoria, tudo lindo. Na prática? Nos primeiros meses, a criança tenta comer os livros. Depois, rasgar. É aos poucos, com paciência, perseverança e exemplo que a criança vai aprendendo a manusear as páginas: vê o adulto folheá-las e tenta imitar, repara nas figuras, nas cores, nos personagens. Ainda assim, por vezes, seja por instinto (crianças as vezes jogam ou quebram coisas, acredito que o ímpeto seja uma necessidade natural e que vai aprendendo a ser gerida aos poucos) ou por pouca destreza no manuseio, os livros – tão bonitos!; tão coloridos!; com histórias tão bonitas!; com ilustrações primorosas! – são rasgados sem dó, nem piedade, muito menos tempo hábil para interferir ou impedir. E nas salas de espera e voos de avião da vida!? Nenhuma revista passa incólume: um rasguinho, uma babinha, um amassado… sempre vai ter. Aqui, por sorte talvez, todos os livros feridos poderão ser recuperados e todos os avariados são livros infantis (pode julgar que é egoísmo, sem problemas, acho que é mesmo).
De nada adianta evitar o encontro entre crianças e livros, pois não há maldade na ação.
Sabe o que você sentiu quando leu que uma das saídas da Cosac Naify, no fim do ano, será destruir os livros que estiverem encalhados no estoque? Pois é: alguns pais e mães passam por experiência semelhante no cotidiano. Já pensou!? Sorte que há livros infantis bem reforçados (mas com o tempo até estes sucumbem) e outros de materiais diversos (tecido, plástico) que resistem um pouco mais à fúria eventual ou à curiosidade de um bebê ou criança pequena.
Aprendizado da maternidade é manter a calma nessa hora e explicar quantas vezes forem necessárias que os livros devem ser tratados com carinho, repetir à exaustão que é preciso ter cuidado. E que de nada adianta evitar o encontro entre crianças e livros, pois não há maldade na ação. Pelo contrário: incentivar (por mais que resulte em livros rasgados e a rotina de enfrentar minúsculos ataques do coração) para que a prática se fortaleça e assim, um dia, você transforme um bebê em um adulto consciente que não vai nem usar a orelha do livro para marcar páginas.