Já nas informações iniciais, o filme nos informa que faz parte de uma linha muita específica de diversão: o chamado entretenimento com causa. A história de As Fantasias de Nicolas (Un Disfraz para Nicolas, no original, é um filme mexicano de 2020 disponível na Disney Plus) conta a história de um menino de 10 anos com Síndrome de Down. Ele vive com a mãe, que era um exímia contadora de histórias e costureira.
Ela passava os dias contando histórias sobre mundos fantasiosos e produzindo fantasias para que o filho mergulhasse de cabeça nas narrativas. Quando ela morre, ele vai morar com os avós e um primo adolescente, que não o aceita.
Ele é um pequeno herói que aprende a lidar com seus pesadelos e ensina quem está à suas volta que, se há sonhos, haverá pesadelos e que isso é a vida.
O filme conta a relação entre os personagens, a aceitação entre eles, a empatia necessária com quem é diferente e também a paciência que Nicolas precisa dispor para enfrentar a nova situação. Ali, os monstros das histórias se misturam com a realidade e exigem que os personagens sejam valentes.
Numa mistura deliciosa de fantasia e realidade, o filme mistura elementos 2D e 3D, tornando a experiência interessante. Embora o personagem com Síndrome de Down seja representado de um jeito único, no decorrer da história há momentos em que é impossível distingui-lo dos demais.
A trama tem detalhes muito interessantes e o roteiro parece mesmo respeitar as elucubrações imaginativas de uma criança. As cenas são muito coloridas e a história se desenrola com a mistura entre realidade e fantasia, essencial pra que os conflitos sejam resolvidos pelo protagonista, o Nicolas.
A dublagem no idioma original é feita por um menino de 10 portador da Síndrome de Down, o que foi um gesto acertado da direção, afinal, representa a real inclusão e é capaz de conferir ainda mais profundidade à película.
Ele é um pequeno herói que aprende a lidar com seus pesadelos e ensina quem está à sua volta que, se há sonhos, haverá pesadelos, e que isso é a vida.
Aqui, a reação das pequenas de 5 e 4 anos foi de empolgação com as histórias fantasiosas e de choro soluçado nos momentos mais emocionantes do filme. Viram o filme duas vezes seguidas – crianças e a necessidade de reforçar padrões e previsibilidade para se sentirem seguras e é por isso que elas gostam/precisam ver e ouvir tantas vezes as mesmas coisas.
Perguntei se elas percebiam algo de diferente em algum dos personagens, mas os marcos que representam a Síndrome de Down no personagem não chamaram a atenção das meninas ainda na primeira infância. Elas ficaram encantadas com o mundo fantasioso, ainda tão semelhante com o delas.
Para as crianças menores, é melhor assistir ao filme com supervisão, para que elas compreendam as diversas e ricas metáforas que o texto oferece. E embora o filme deixe clara uma mensagem sobre empatia, sobre a necessidade enfrentar os monstros – reais e imaginários – essa mensagem fica para os adultos e também para as crianças mais velhas que assistirem à animação.