Não sei vocês, mas eu já ouvi muito pequenas variações da mesma história: “sempre me dei bem com o meu pai, éramos amicíssimos. Com a minha mãe, não. Vivíamos brigando, era uma relação horrível”.
A minha própria história é uma dessas variações, afinal, cresci vendo meu pai trabalhando muito, vendendo férias, fazendo plantão, sempre ocupado tomando café e lendo jornal. Quis imitá-lo, tinha ojeriza ao trabalho doméstico (que sempre foi a função da minha mãe).
Nesse domingo, dia dos pais, imagine quantas camisetas, canecas, meias e cartões de presente vão estampar uma imagem de um super-herói como o dos quadrinhos ou um homem comum com uma capa.
Mas por que os pais têm super poderes? Porque deles se sabe pouco. Pouco convivem com os filhos, não estão na lida diária com as crianças, negociando com adolescentes.
Mas por que os pais têm super poderes? Porque deles se sabe pouco.
Nunca perdem a paciência, são poços de bondade, afinal, não se estressam com as pequenezas diárias, não trocam fraldas, não trocam a roupa suja de feijão, não tem que acompanhar as tarefas, não estão no grupo do WhatsApp da turma da escola, não marcam médico ou levam vacinar.
Para brincar por poucas horas por dia, não importando se é a hora do banho ou se a criança já viu tevê por tempo demais, qualquer um ganha ares de perfeição.
Licença
Me permito fazer uma releitura do efeito Duning-Kruger. Esse fenômeno – que leva o nome dos dois psicólogos que o pesquisaram – indica que, quanto menor o conhecimento de alguém sobre um fato, maior é a confiança que a pessoa sente em si mesma com relação àquele assunto.
Ou, em resumo: a ignorância nos faz confiantes. Os incompetentes se acham incríveis porque não conseguem nem perceber a própria ignorância.
Quando ampliamos nosso conhecimento sobre um assunto, percebemos que não sabemos tanto assim. O gráfico ao lado explica o efeito.
Agora, use o mesmo raciocínio para a paternidade: quanto mais sabemos e convivemos com nossos pais, mais vemos eles como seres humanos, por inteiros, com erros, acertos, falhas… e nada de super poderes.
Quanto mais próximos da criação dos filhos, menos os pais vão parecer super heróis e mais vão ser palpáveis e ativos na criação dos filhos.
Pais que falham, que choram, que recomeçam, que se mostram humanos são muito mais válidos para o aprendizado dos filhos do que pais com “supostos super poderes”, que nunca ninguém vê.
Prefira ser menos super herói e mais o pai chato mesmo, que está ali todo dia, nas horas boas e nas horas chatas também.