E u sonhava com uma educação completamente longe das telas mas, sendo eu mesma uma pessoa que adora ver televisão, não teve como sustentar as falaciosas fantasias de uma recém mãe que ainda estava desligada da realidade.
E a realidade é que os momentos com os filhotes na tevê, com algumas exceções, costumam ser momentos de presença, afinal, aproveito o entretenimento também. Virou um programa familiar assistir a um filme no domingo e, conforme as filhotas crescem, mais esse programa se cristaliza na rotina e no imaginário delas – que já ajudam a escolher os títulos.
Durante o ano de 2020 vimos minguar absurdamente os títulos infantis nos serviços de streaming que já assinávamos – Netflix (que já está há mais tempo na minha vida que as crianças) e Amazon Prime. Para ir suprindo as lacunas, apareceram novas e diversificadas produções que, embora tenham o seu valor, não têm a mesma pegada e a mesma capacidade de manter as crianças atentas tanto quanto as produções da Disney e da Pixar, por exemplo.
Em pleno ano de pandemia, com as crianças em casa sem ir para a escola, se repetiam os programas, os filmes… e novamente… o mesmo episódio e a mesma música tema, o mesmo personagem… e ninguém aguentava mais.
Não queria ceder e assinar a Disney + por dois motivos:
1. Detesto o Mickey, tenho ranço mesmo;
2. Não queria investir mais em canais de streaming pois acho a estratégia horrorosa, desleal e capitalista demais.
A maternidade é esse um eterno cuspir para cima e cair na testa, como tantas outras mães já disseram.
Mas não teve jeito: nossas “sessões de cinema” não eram mais as mesmas. Foram rareando os momentos de assistir à TV todos juntos e, em dezembro, quando vi o trailer do Soul, me deixei enganar pela falácia de que faria apenas a assinatura de teste e cancelaria antes dos 7 dias que a plataforma permite a experimentação.
A maternidade é esse um eterno cuspir para cima e cair na testa, como tantas outras mães já disseram. E a mãe que achava que criaria as filhas longe da telas assinou o terceiro canal de streaming da casa e, desde então, só assistimos às produções da Disney e da Pixar. Me rendi ao Mickey e sua turma e achei que o leque de opções é muito conveniente para a distração familiar.
Além disso, pude rever animações que vi na infância e mostrar às minhas filhas um viés novo: em filmes como Alladin e 101 Dálmatas, o retrato dos vilões e dos mocinhos é menos politicamente correto, há diversas cenas que retratam mau trato aos animais, racismo e machismo, impensáveis em uma produção atual.
A princípio pode parecer terrível mostrar esse tipo de produção às crianças. Mas vejo diferente: penso que é justamente mostrando que existem (e infelizmente continua existindo) ações tão abjetas é que podemos debatê-las e combatê-las.
Contrariando todas as expectativas, tive de dar o braço à torcer ao canal do Mickey: para o público infantil, compensa mais que outras plataformas pela qualidade e diversidade do repertório. É a casa do Mickey Mouse e eu me sinto da família.