Na semana passada, minhas filhas voltaram da atividade pedagógica que fazem agora nesses tempos pandêmicos dizendo que era “Dia do Índio” e que eles viviam na floresta, caçavam, tomavam banho no rio sem sabonete e estavam sempre pintados, além de usarem uma adereços na boca, no nariz e na cabeça.
Estava despreparada para esse momento. Sem preparo nenhum para falar dos meus próprios antepassados, da minha própria história. Sem muitos argumentos para rebater a rasa simplificação que era a informação que elas tinham no momento.
Eu sei, você vai me dizer: “mas ok, elas são crianças e logo vão aprender um pouco mais”. Fuééén, errado. Acredito que as crianças são capazes de entender aquilo que explicamos para elas. Portanto, é o papel dos cuidadores, de quem convive com as crianças, não simplesmente simplificar, mas, pelo contrários, deixá-las abertas para entender que as coisas são mais complexas do que parecem ser.
Naquele dia elas foram dormir e eu prometi que no dia seguinte explicaria melhor. Que essa imagem que elas tinham desenhado em suas cabecinhas era a do índio do passado. E que não era errada, mas incompleta.
Por sorte, naquele mesmo dia 19 de abril, tive a felicidade de estar vento TV quando começou o especial Falas da Terra, transmitido pela Rede Globo. O documentário traz o relato de dezenas de indígenas, de vários povos e de todo o Brasil, mostrando a sua história de luta e resistência.
Assistindo ao especial eu (que chorei muito) descobri um professor e autor indígena, o paraense Daniel Munduruku, que pertence à etnia Munduruku. Ele escreveu mais de 50 obras, entre elas, livros infantis premiados com o Jabuti, principal premiação do setor.
Em Histórias de Índio, o protagonista é Kaxi, um menino munduruku que se depara com uma grande missão: ser sucessor do pajé.
Naquela mesma madrugada, comprei duas obras do autor: Coisas de Índio – versão infantil e Histórias de Índio. A primeira é como uma mini enciclopédia que fala sobre vários aspectos da cultura indígena. Explica como os povos se organizam, como é a cultura de um modo geral, como curam doenças e preparam o alimento.
Em Histórias de Índio, o protagonista é Kaxi, um menino munduruku que se depara com uma grande missão: ser sucessor do pajé. Ele vai descobrindo, ao longo da história, como se conectar consigo mesmo e com a natureza para exercer tão nobre missão.
Foi muito bom ter contato com essas obras, produzidas por um indígena e que mostram de um jeito tão verdadeiro e acessível o que são os nossos povos originários, a quem deveríamos prestar respeito e admiração profundos.
Os livros são indicados para crianças maiores, de 9 a 11 anos. No entanto, já apresentei as obras para as minhas meninas menores e só o fato de elas terem essas obras à disposição já me sinto mais tranquila e iniciando um caminho que foi negado a tantos de nós: o de resgate das nossas próprias origens.
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