Emicida é unanimidade, não é!? E eu queria que ele virasse amigo das minhas filhas. Que brincasse com elas no jardim e contasse umas histórias. Nossa relação com ele já é quase assim, pelo menos de nossa parte. Os livros infantis do autor são lidos à exaustão e as músicas repetidas várias e várias vezes. E não é só por escolha dos adultos, não. As crianças mesmo é que querem, porque se identificam, se divertem.
A menina de 5 anos assistiu a toda a live dele na abertura do Festival de Teatro de Curitiba porque queria ouvir a versão dele do clássico “Sujeito de Sorte”, do Belchior. AmarElo, que Emicida canta junto com Pabllo Vittar e Majur tem um clipe vivaz e colorido e minhas filhas vibram com as bailarinas e bandeirolas amarelas e azuis.
Adoram ver o clipe de “Quem tem um amigo (tem tudo)”, que segue a estética de desenho animado. Mal sabem elas que a letra é mais uma oração e um mantra do que só uma música.
O livro Amoras, primeira obra infantil do artista, lançado em 2018 pela Companhia das Letrinhas, conta uma história simples sobre a filha colhendo amorinhas no quintal e a observação de que as mais pretinhas são as melhores dá início a um conceito sobre representatividade, autoconfiança e negritude. Também cita personagens históricos e é o gancho para começar a contar histórias de verdade um jeito que elas vão entender e não vão se assustar ao se deparar com a realidade. Tem uma versão da obra transformada em música que já entrou na playlist das crianças.
É justamente essa conexão entre música, rima e poesia que fisga os pequenos corações. Crianças se divertem com rimas, inventam músicas.
Também temos uma amoreira no quintal e há pouco mais de um mês, na época da safra, elas pulavam para alcançar os galhos mais baixos e puxar as frutinhas falando, ao léu, palavra do livro: obatalá, malcom x, acalanto… “Eu também sou pretinha, mãe?!”, me pergunta a mais nova. “Não, filha, não é, mas você sabia que tem gente que não gosta de quem é preto? Esquisito, né?”…
Agora ganhamos o segundo livro infantil do músico: E Foi Assim Que Eu e a Escuridão Ficamos Amigas, que fala lindamente sobre medo e coragem. Admite a existência do medo, mas coloca ele no lugar que ele deve ficar. Mostra que a coragem é gigantesca – “nem cabe na página, mãe!” – e que ela é nossa grande amiga. Relativiza que, muitas vezes, os monstros são uma versão de nós mesmos. O livro também possui uma versão musicada.
É justamente essa conexão entre música, rima e poesia que fisga os pequenos corações. Crianças se divertem com rimas, inventam músicas. Nas obras do Emicida, encontram esse universo que é meio que o delas. E nem sempre entendem tudo que ele canta, mas estão tão familiarizadas com a figura e a obra que pedem: “vamos ouvir o ‘tenho sangrado demaisss’!”
Mas por que o rapper produz para as crianças? Em entrevista, o músico conta que a paternidade o levou para reencontrar o mundo da ingenuidade e da doçura das crianças – ele tem duas filhas, de 7 e 2 anos. E ressalta que, se a mensagem dele pode alcançar e fortalecer as crianças, elas chegarão à adolescência mais preparadas para enfrentar a realidade.
Emicida e suas obras nos dão ganchos para tratar de assuntos importantes para as crianças além de, é claro, iniciá-las em boa música.