Aviso de antemão que há ironia no título do texto. Não existem boas mães (não, nenhuma), porque todas as mulheres nessa condição, uma hora ou outra, vão querer sair correndo de perto da cria, vão perder a paciência, vão dar bolacha recheada ou fritura para os filhos, etc etc… Mas como seres em evolução e em busca de conhecimento, podemos fazer tentativas para melhorar. Para mim, uma dessas formas é lendo.
Há um ano e oito meses (desde que descobri a gravidez), mergulhei nas águas turvas e profundas da maternidade e tudo que implica gestar, parir e criar uma pequena criatura. Pelo menos para mim, tem sido uma época de ir atrás de muita informação. Primeiro para tentar entender o que acontecia comigo e com meu corpo e, agora, para buscar compreensão sobre o crescimento e o desenvolvimento dos bebês e das crianças.
Nesse caminho, já teve muito livro lido pela metade, muito artigo, texto e blog da internet (obrigada, internet! O que seria de nós sem você!? Aliás, torço para estar aí o gatilho para criar uma nova geração, já que a informação está disponível e acessível. Ou não, enfim…), já teve obra sendo rasgada em mil pedacinhos e outros que se transformaram em guias, lidos eventualmente sempre que é necessário ter uma palavra de consolo.
Preferi os que não são no estilo ‘manual’, porque acredito que manuais servem para as ciências exatas (e olhe lá!) e a maternidade é um momento intenso de experimentações e de seguir os instintos, e não de se prender a regras engessadas, que mais dificultam do que facilitam.
Nunca me senti obrigada a ler nada e acho que ninguém deve obrigatoriamente ler alguma coisa antes de se tornar mãe. Até porque, em nenhum livro existe fórmula mágica que ensine um jeito infalível de criar os pequenos. Alguns até tentam, ostentam títulos presunçosos (e mentirosos) e propõe métodos fabulosos, sem levar em conta a individualidade de cada situação e, principalmente, de cada criança.
Foi um destes que foi alvo da minha fúria hormonal uma semana antes de parir: comecei a ler e já na introdução o autor dava a entender que ~as mães~ eram responsáveis pelos maus hábitos dos filhos. Já ~pais e cuidadores~ conseguiam driblar as emoções e agir racionalmente com as crianças. Mas ~as mães~… E na quarta vez que a menção às birras e choros estavam ligadas diretamente aos cuidados da ~mãe~ e as coisas positivas aos ~pais e cuidadores~ (atente para a divisão clara, óbvia e limitadora entre feminino e masculino que minha alma feminista não perdoou) o livro se transformou em papel picadinho que foi direto para o lixo reciclável.
Mas há obras que, para mim, foram úteis para refletir sobre esse papel de forma mais sensata e humana. Preferi os que não são no estilo “manual”, porque acredito que manuais servem para as ciências exatas (e olhe lá!) e a maternidade é um momento intenso de experimentações e de seguir os instintos, e não de se prender a regras engessadas, que mais dificultam do que facilitam. Além disso, ler o manual pode ser um tiro no pé, já que você pode não se enquadrar em algum “padrão” e achar que o errado é você, quando na verdade o livro é que é limitante.
É claro que deve haver muitos outros bons títulos no mercado, mas aqui compartilho quatro deles.
1. O filho de mil homens, Valter Hugo Mãe (Cosac Naify, 2012)
É literatura e foi o primeiro livro que li depois de ter descoberto a gravidez. O nome me chamou atenção e, de fato, acredito que a obra diz muito sobre ter filhos. A história versa sobre um pescador que sonhava ser pai e o encontro fortuito dele com um menino órfão. O livro trata da “invenção” de uma família e, de um jeito tocante, mostra o quanto isso é uma construção diária bem diferente da imposição irreal do comercial de margarina. Também reforça aquele ditado que diz: “é preciso uma vila inteira para criar uma criança”, pois nos coloca diante da fragilidade da infância e da necessidade urgente de a sociedade se responsabilizar e acolher os pequenos.
2. Maternidade e o encontro com a própria sombra, Laura Gutman (Best Seller, 2010)
Eu tinha muito preconceito com a autora por ver pessoas que eram fãs enlouquecidas dela e das obras. E confesso, também por causa do nome da editora do livro. Mas nesta obra, a psicoterapeuta aclamada pela crítica fala sobre vários aspectos da psique feminina e as transformações que acontecem com a chegada de um filho. Ajudou-me a desfazer a aura – que possivelmente muita gente ainda possui – de que mães são “heroínas”. Não, são pessoas normais, com “luz e sobra”, como diz a autora, e que precisam equilibrar os sentimentos bons e ruins da melhor maneira para criar os filhos de forma mais tranquila.
3. Besame Mucho, Carlos González (Temas de Hoy Esp, 2007)
O autor é pediatra e tem vários títulos na área. Neste livro, ele resume que o necessário para educar filhos é amor e carinho irrestrito. Propõe uma maternidade mais visceral, instintiva; e menos cheia de regras. Ah, e é claro: deixa bem explícito algo que, por vezes, esquecemos. Que, com crianças, nós é que somos os adultos e devemos manter o nível das interações. Então, se a criança te tira do sério, provavelmente é você que tem que rever seus conceitos, afinal, a criança é um ser em formação que vai aprender e repetir o que os adultos fazem. (Não que os pais sejam infinitos poços de paciência, mas, vá lá, nós já estamos mais acostumados com a “civilização” e conseguimos nos segurar ou canalizar a falta dela – da paciência).
4. Soluções para noites sem choro, Elizabeth Pantley (M.Books, 2003)
Esse, sim, se parece bastante com os livros clássicos sobre maternidade. É um obra com dicas e sugestões sobre como fazer os filhos dormirem melhor ou até a noite toda (e quem não quer isso, não é!?). Para além das questões práticas, o livro traz muita informação com base em pesquisas científicas que ajudam a entender a necessidade de sono dos pequenos e alguns dos comportamentos deles com relação à famigerada hora de dormir. Confesso que não li do começo ao fim, mas procurei os temas que me interessavam no índice e fui lendo aos poucos, fora da ordem. Essa é a parte boa dos livros nesse estilo manual: são tópicos bem delimitados e é possível ir direto ao ponto, sendo fácil reencontrar assuntos específicos.
Esta lista está em construção, já que há livros que tratam da maternidade e infância que ainda estão na cabeceira esperando para ser lidos. Alguma dica? Aceito sugestões.