A História da Arte do Paraná é, ao mesmo tempo, um tanto peculiar e outro tanto sem grandes percalços. Um exemplo é o fato de que um salão de arte (em nosso caso, o Salão Paranaense), modelo de instituição tão antiga, tenha sido um dos principais responsáveis por legitimar a produção de artistas modernos paranaenses.
Os museus de arte em Curitiba oferecem a oportunidade de conhecer, através de exposições permanentes e temporárias, o caminho da arte moderna no Estado, que é bastante diferente daquele que aconteceu nos chamados grandes centros culturais, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Discretamente, por mãos espontâneas e originais, a arte moderna começou no Paraná no começo do século XX. Foi instrumento de ideologias regionalistas e, na metade do mesmo século, foi bandeira em meios as principais instituições culturais paranaenses.
Discretamente, por mãos espontâneas e originais, a arte moderna começou no Paraná no começo do século XX.
Ainda se espalham por museus, ruas e praças de Curitiba os vestígios de movimentos modernistas que atuaram por aqui.
Abaixo, fizemos um roteiro que permite conhecer a história da produção artística do Estado através de uma volta atenta por instituições e pelo centro da cidade. Vale lembrar que as visitas nestas instituições são gratuitas.
O pai estrangeiro
O pai da arte paranaense é norueguês. Sim, soa um pouco estranho, mas foram os discípulos que deram tal título a Alfredo Andersen, pintor europeu que desembarcou no Paraná em 1892.
Em Curitiba, Andersen cria uma escola de pintores que viriam a ter grande influência no Estado. Seu método de ensino é tradicional, sendo que muitos historiadores ainda chamariam de acadêmico.
No entanto, é em suas produções mais independentes, especificamente suas paisagens, que se encontram as pinceladas modernas que poucos brasileiros de seu tempo conseguiram realizar.

Andersen captou a luz da paisagem paranaense como ninguém. Fez uma leitura impressionista dos rios, lagos e matas que encontrou no Paraná, contrastando fortemente com a penumbra das paisagens norueguesas que havia pintado no passado.
É por este flerte com a estética do Impressionismo, mesmo sem necessariamente querer ser impressionista, que Andersen pode ser considerado, próximo de Eliseu Visconti, como um dos precursores da pintura moderna no Brasil.

Onde encontrar seus trabalhos? Além da exposição Luz = Matéria, no Museu Oscar Niemeyer, uma série de obras do artista estão expostas na Casa Alfredo Andersen, localizada na Rua Mateus Leme, 336.

O simbolismo das ruas
Nas ruas de Curitiba, é possível encontrar um outro aspecto da arte paranaense do início do século XX: a forte produção de símbolos, herança do simbolismo.
O grupo artístico do Movimento Paranista, formado por Lange de Morretes, Zaco Paraná, João Turin e outros artistas, produziu símbolos que procuravam criar uma unidade comum do que representa – ou deveria representar, à sua visão – ser paranaense.
É de Lange de Morretes, por exemplo, a famosa estilização do pinhão que ocupa os petit-pavés de várias calçadas curitibanas. É bastante difícil encontrar algo mais representativo do que este desenho.

Zaco Paraná realizou esculturas que, em suas intenções, contavam uma história do Paraná ao mesmo tempo que o projetava para o futuro. Um exemplo é O Semeador, que se encontra na praça Eufrásio Corrêa.

Já João Turin, escultor que há poucos anos ganhou exposição no Olho do Museu Oscar Niemeyer, contou os mitos paranistas que falavam de um Paraná primitivo, na intenção de criar uma história bastante particular para o Estado.
Turin também criou uma arquitetura paranista: colunas, capitéis e outros ornamentos que lembram pinhas, pinhões e o pinheiro; uniu o decorativo ao simbólico no intuito de levar imagens simbólicas para o cotidiano.

Os artistas paranaenses, bebendo nas ideias do simbolismo, contribuíram para criar imagens icônicas do que representa o Estado. Mesmo não muito ousados em suas práticas, seus feitos já mostram alguns flertes com a arte moderna.
Viaro e Poty
Sem dúvidas, influências magnânimas para a arte moderna paranaense. Guido Viaro, italiano, chega na década de 1930 a Curitiba e por aqui se instala. Alguns anos depois, abre sua escola e começa o ensino de uma enorme geração de paranaenses.
Seu forte temperamento e pintura altamente expressionista carregou seu reconhecimento pelas várias décadas que atuou no Paraná. Foi professor na Escola de Música e Belas Artes, artista participante e júri do Salão Paranaense, atuante na moderna Revista Joaquim, além de um dos poucos artistas paranaenses a conseguir se sustentar apenas com a atividade artística.

No Museu Guido Viaro, localizado na XV de Novembro, 1348, é possível conhecer de perto a pincelada forte e segura de Viaro que criaram figuras dotadas de uma expressividade gigantesca, fruto do trabalho de um artista que não teve medo de conhecer e experimentar durante a vida.

Poty Lazzarotto, amigo de Viaro, mostrava sua inclinação modernista desde o início da carreira, na década de 1940. Sua gravura altamente expressiva ilustrou uma série de literários de grandes nomes brasileiros.
Em Curitiba, vários murais de sua autoria estampam a cara da cidade. Trabalhos maduros, realizados nas décadas de 80 e 90, carregam a influência inicial de Poty: figuras e paisagens expressivas carregando o traço característico do artista paranaense.

A geração dos abstratos
No fim da década de 1950, Curitiba é apresentada à arte abstrata. Artistas como Fernando Velloso, Fernando Calderari, Loio-Pérsio e Antonio Arney realizam obras informais que, durante algum tempo, encontrou muita resistência na comunidade artística local.
No entanto, quanto estas obras são validadas nos Salões Paranaenses da década de 1960, elas são símbolos oficiais de que o Paraná estava com a cabeça na arte moderna.
Atualmente, obras de Velloso, Calderari e Arney podem ser encontradas em diferentes exposições em Curitiba. Uma delas é a exposição comemorativa da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, em cartaz no Museu Paranaense.

No Museu da UFPR, o MuSA, a exposição Do óleo à Resina: A diversidade plástica do acervo MuSA explora algumas obras dos modernos paranaenses, como Calderari e Arney.
Já no Museu Oscar Niemeyer, a exposição Luz = Matéria traz obras de praticamente todos os artistas citados neste texto, dando a chance de conhecer de perto uma síntese da arte moderna paranaense. Vale lembrar que o MON tem entrada gratuita todas as quartas-feiras.
Em tempos que instituições seculares que abrigam milênios de histórias são reduzidas à cinzas, recuperar e conhecer a história local é uma atitude mais do que necessária.
Conhecer a arte paranaense é uma tarefa bastante interessante, conectada ao próprio ato de reconhecer como o paranaense fez e faz a sua história.