Comecei 2016 com a promessa de que não leria caixas de comentários, fossem de portais ou de comunidades no Facebook. Consumia uma energia que, sinceramente, não merecia ser gasta com a leitura de uma cacetada de impropérios. Jurava que era uma promessa mais fácil de ser cumprida do que um regime – esse, aliás, já desisti e assumi que como a idade, que não retrocede, os quilos na balança também são eternos.
Se sorte ou não, percebi que com o passar do tempo a violência que os comentários, aquela carga de chorume que desce pelos boxes em jornais e páginas de Facebook com peso semelhante aos rejeitos da barragem de Mariana, doía menos. Estava ligado aí um alerta. Quando a violência fica naturalizada e nossa humanidade não se impacta mais pelo absurdo (ou pelo choque), é sinal de que estamos falhando.
Por padrão, a verborragia da internet é uma arma violenta na mão de pessoas irrelevantes. E como numa guerra, o importante é sobreviver, utilizando a artilharia que for necessária, correndo o risco no caminho de derrubar um hospital ou atingir uma escola com crianças. Nada importa num cenário como esse, apenas a certeza de que descarregamos a mesma violência com que a vida nos trata.
Por padrão, a verborragia da internet é uma arma violenta na mão de pessoas irrelevantes.
A internet começou, tal qual a humanidade, como um experimento que aparentemente havia dado certo. Estávamos mais próximos, mesmo que distantes. Parecíamos mais fortes, mesmo que não de verdade. Havia alegria, piadas, pois, no mundo da internet, a “zoeira não tem limites”. Entretanto, permitimos que, assim, fosse instituído o fim dos limites em tudo, menos na quantidade de balas prontas a serem disparadas pelos teclados, legítimas AK-47 do mundo cibernético.
Não sou profeta do apocalipse, tampouco profeta dos bons dias, ainda que os cabelos compridos pareçam me dar um ar de Maomé do petit-pavé curitibano, mas precisamos parar um instante para pensar antes de comentar: de repente, a arma está apontada para nós.