Apesar da morte, das tormentas, das derrotas, do câncer, do vazio, do ódio, é preciso acreditar que a vida sempre vence – e se renova. A vontade de vencer, não o vencer na vida vendido pelos inúmeros textos de autoajuda que circulam no ambiente virtual, perpassa. Ou precisa.
Vivemos tempos duros, difíceis, mas que precisam ser enfrentados com a mesma força que nos impõe. Há de chegar o momento em que, nesta equação, um dos lados sairá amansado. Há de se encontrar virtudes, mecanismos capazes de fazer com que nossa monstruosidade, a que todos nós carregamos, seja sufocada, diariamente. Não é um leão por dia, é um monstro.
Não somos desconstruídos, livres do pecado, almas santificadas para a existência. Somos, sem exceção, monstros. Mas, e como se lida com monstros? Não há receita.
Certamente que os monstros se apresentam de maneiras distintas em pessoas e grupos, e que eles sempre estiveram à espreita, esperando nosso primeiro vacilo para dar as caras. Não somos desconstruídos, livres do pecado, almas santificadas para a existência. Somos, sem exceção, monstros. Mas, e como se lida com monstros? Não há receita.
A bem da verdade, ainda não somos capazes de admitir nossas próprias falhas. Aquelas que surgem no momento de pasmaceira. Preferimos crer que tudo não passou de um dia ruim, um capítulo esquecível, uma propaganda sem sentido, um texto meio sem pé nem cabeça.
Viver em uma cidade como Curitiba, ou qualquer outra grande metrópole, exige de nós a sabedoria para, por exemplo, encarar a solidão. A solidão, geralmente, força com que sejamos confrontados com nossos próprios pensamentos. Os monstros dentro de nós surgem nesses momentos. O silêncio da solidão faz com que sejam ouvidos. Quem não aprende a viver só nunca será capaz de viver em grupo. Quem não sabe lidar com o outro sempre será asfixiado pela solidão. É uma via de mão dupla, inexorável.
Que os nascimentos (e renascimentos) que nos brindam vez ou outra continuem exigindo de nós todos esses embates, para que não projetemos em quem vem nossas próprias monstruosidade na solidão da calada da noite.