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Home Crônicas Alejandro Mercado

Quanto tempo dura uma memória?

porAlejandro Mercado
21 de julho de 2016
em Alejandro Mercado
A A
"Quanto tempo dura uma memória?", crônica de Alejandro Mercado.

Imagem: Reprodução.

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O tempo costuma ser implacável. Por mais que nos esforcemos em evitá-lo, uma hora ele cobra o preço. Das incongruências da vida, fica evidente que a pior é a que determina que não há comportamento regrado que impeça de chegarmos diante de um momento em que somos expostos à nossa fragilidade. Se tivesse que apontar a forma mais cruel de agir do tempo, certamente diria que suas artimanhas são mais sorrateiras no que concerne à memória.

Do alto de seus 93 anos, vejo minha avó pouco a pouco perdendo pequenos recortes sobre sua própria existência, e consequentemente sobre a nossa. Aniversários, traços físicos, nossa idade. Ela sabe que existimos, que fazemos aniversário, até se lembra de onde moramos. Sua memória é subversiva e não aceita a derrota. Luta bravamente, desafia a ciência e a fé, ainda que, no fim, saibamos que não vencerá a guerra.

A memória tem essa característica. São pequenos blocos de história que se encaixam construindo uma narrativa. Quando lacunas aparecem, agimos como um disco rígido, um computador em que a agulha de leitura salta um ponto, comendo fragmentos de quem fomos.

Desde que me entendo por gente, minha mãe tomava remédios para a memória. Em especial durante minha juventude, faltava-me um pouco de paciência e compreensão de qual o significado daquilo. As perguntas sobre meus pratos prediletos viraram a confirmação de minha idade, e na ausência de sapiência, ralhei com ela um sem número de vezes. Em vão, é claro. É fato que ela nunca apresentou maiores problemas de memória além dos já citados. Entretanto, parece que algo havia sido desfigurado, retirado do lugar.

A memória tem essa característica. São pequenos blocos de história que se encaixam construindo uma narrativa. Quando lacunas aparecem, agimos como um disco rígido, um computador em que a agulha de leitura salta um ponto, comendo fragmentos de quem fomos. Como a futurologia não me é um dom, a incerteza do que me aguarda sempre exigiu um esforço a mais na compilação e armazenamento dessas taliscas de vida.

Volta e meia noto uma irregularidade, um início de ausência de vestígios sobre mim. Em virtude do histórico familiar, acabo exigindo sempre mais do que acredito serem minhas capacidades energéticas e cerebrais. Um livro a mais, um texto a mais, como se o acúmulo de informações garantisse uma sobra, uma rebarba que, ao ser retirada, não faria tanta falta. Inexplicavelmente isso criou uma falsa impressão de que cada novo agrupamento de memórias estaria apagando um antigo, memórias novas sobrepondo as mais distantes.

No fim, não consigo imaginar como as coisas se sucederão e o quanto a desmemorização me tornará obsoleto. Enquanto isso, luto a boa batalha, desafiando a ciência e a fé, embora eu saiba que não vencerei a guerra.

Tags: Crônicaenvelhecimentomemória

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