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Home Crônicas Yuri Al'Hanati

A inversão de Harper

porYuri Al'Hanati
28 de janeiro de 2019
em Yuri Al'Hanati
A A
A inversão de Harper

Imagem: Dragana A./Reprodução.

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O filme Fragmentos de um Crime, de Orson Welles, contém alguns jogos interessantes de inversão. A trama policialesca, que estreou em 1946 no cinema com o título original de The Stranger, trazia Welles no papel de um nazista chamado Franz Kindler que se refugia sob outro nome em uma pequena cidade dos Estados Unidos e é perseguido por um detetive, que por sua vez alicia a nova família de Kindler a fim de revelar sua verdadeira identidade. Tecnicamente exuberante na estética noir que se propõe, a película tem como objeto central de mistério os relógios – mais especificamente, o relógio da torre da igreja da cidade de Harper, onde se passa boa parte das cenas de tensão.

O relógio em questão tem, como decoração visual de suas badaladas, um pequeno trilho circular por onde caminham um demônio e um anjo com uma espada apontada para ele, em seu encalço. Dependendo do momento em que se começa a observação da animação mecânica, pode-se constatar que o anjo está perseguindo o demônio ou, ao contrário, que o demônio está logo atrás de um servo do senhor que vaga inutilmente por aí com a espada da justiça.

Que os símbolos se troquem. No olhar inédito da criança, o demônio sempre foi mais interessante do que o anjo de qualquer forma.

É claro que Welles arranja uma forma de associar os personagens do relógio aos personagens da trama. A inversão se dá aí: Kindler, o nazista, é o anjo, e o detetive Mr. Wilson, o demônio. Para além das intenções do diretor em tal analogia – entre as explicações, talvez a corrupção moral dos policiais do gênero noir, uma leitura psicológica a partir do próprio Kindler, a vítima disso tudo – é interessante imaginar como um enredo policial, com mocinhos e bandidos, é capaz de sugerir que os sinais podem ser mais cifrados do que supõe a vã filosofia. Um espectador que tenha sido pego de surpresa por essa inversão do longa pode relutar em comprá-la na ausência de maiores e mais claras explicações, tamanho é o arraigamento das alegorias.

Disse isso porque há uma técnica, difundida por Tolstói e estudada por Victor Chklóvski, chamada estranhamento. Consiste em narrar como se estivesse vendo tudo pela primeira vez. O estranhamento permite com que o leitor abandone momentaneamente seus valores e leituras de mundo para comprar a ideia do autor e, com isso, se atente para detalhes que de outra forma passariam despercebidos. Abraçar inversões, desaprender conceitos, olhar mais uma vez para algo pela primeira vez, tudo isso é exercício de sensibilidade cronística, e aquele que se propor a fazer qualquer coisa do tipo, passará por essa técnica para trazer algo de novo sobre um universo extremamente banal e resolvido. Que seja desresolvido para re-resolver, portanto.

Que os símbolos se troquem. No olhar inédito da criança, o demônio sempre foi mais interessante do que o anjo de qualquer forma.

Tags: anjoschklóvskiCrônicademôniosestranhamentofilmeFranz KindlerOrson Wellesthe strangerTolstoi

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