Entrando pela quinta vez em uma loja de cosméticos a procura de um pente de madeira para a barba e recebendo a quinta negativa consecutiva, eu sou a encarnação do consumidor persistente. Então o pente de madeira tira a estática da barba, deixa os pelos menos levantados e tem outras propriedades benéficas ao meu metrossexualismo tardio, disse o cara que cortou meu cabelo da última vez. O problema é achar um, aparentemente.
Chego em casa e decido fazer o que pessoas normais fazem: comprar coisas na internet. Busco “pente de madeira para barba” no Google e uma infinidade de marcas e sites dedicados à estética masculina pipocam na tela. Travo diante dos nomes e das imagens. Um deles tem uma barba gravada com pirógrafo na base, uma outra marca disponibiliza um pente em um formato de caveira e há ainda uma terceira para a qual um pente de madeira para uma barba masculina obrigatoriamente tem que carregar o formato de um soco inglês.
A cabeça daquelas meninas feministas rondam a minha própria, fantasmagóricas e semi-transparentes, acusando com um dedo invisível em riste: “a masculinidade é fráááágil”. Uma infinidade de cosméticos, mas todos eles têm embalagens pretas, para não dar margens a interpretações da própria sexualidade. Uma loção pós-barba que imita uma garrafa de whisky, uma caveira no gel para cabelo, um machado no óleo para barba, um viking musculoso no rímel. Não, essa última eu inventei.
Entrando pela quinta vez em uma loja de cosméticos a procura de um pente de madeira para a barba e recebendo a quinta negativa consecutiva, eu sou a encarnação do consumidor persistente.
Mais do que isso, o nome das marcas sugere um certo orgulho estranho em relação aos próprios pelos faciais. “Use Barba”, “Barba de Respeito”, “Barba Brava”, é como se nada mais no mundo fosse capaz de definir um sujeito além da barba. Frases filosóficas sobre barbas aparecem, é todo um estilo de vida baseado na sua capacidade genética de fazer crescer pelos na cara. “O que te faz um homem de verdade é o seu caráter. A barba é simplesmente o ponto de exclamação”, diz um texto, e nesse ponto já estou consumido pela vergonha.
Tento comprar um pente rápido antes que me detenha no nome ou na marca, mas não dá. O mais baratinho custa 20 reais com mais 15 de frete. É uma batalha perdida. Olho para o meu pente de cabelo fininho e penso que deve haver uma necessidade para qualquer coisa que exista no mundo, ainda que nem toda necessidade convenha ao meu estilo de vida. Que vergonha.
O pior de tudo é que o Google agora fica mostrando várias propagandas de cosméticos masculinos para mim o tempo todo. Silhuetas de barbas e bigodes estampados, a macheza que não ousa dizer o seu nome. Soco inglês, caveiras, machados, navalhas, punhais, o diagrama pictórico que serve como campo de força às invasões bárbaras que o metrossexualismo pode sofrer entre tantos creminhos. Será que é muito difícil fabricar um pente de madeira?