Acho que a primeira vez que me deparei com algo do tipo foi em um banheiro público. Ainda havia a autoridade clássica dos avisos. “Não jogue papel no vaso”, “Dê a descarga” e outras ordens de convívio básico, mas elas vinham acompanhadas de ponderações levemente engraçadas, como “Dê a descarga. Urina não é nenhum perfume francês” ou “Chegue mais perto [do vaso], ‘ele’ não é tão grande quanto você pensa”. Ali, havia a necessidade de ser didático sem ser autoritário, e também havia a compreensão de que aquela placa não passava de uma mera formalidade que poderia, sim, ser aliviada por um fundo cômico, dada a obviedade civilizacional de seu conteúdo.
Mais do que isso, aquele aviso soube explorar bem a fraqueza da nação pela leitura de amenidades. Lemos, sim, desde que seja uma piada, um causo, uma corrente de Whatsapp, mas não gostamos de instruções, manuais ou qualquer em sua versão integral. A coisa ganhou ares profissionais com o advento do social media 3.0, aquele que mascara administração corporativa com memes e linguagem informal.
Aproximar por meio da superficialidade é um motivo publicitário que não liga para padrões intelectuais, mas prefere, antes de tudo, comunicar, o que quer que seja, ao maior número possível de pessoas. Algo bom e até desejável na chamada era da informação, mas talvez preocupante como alicerce educacional em um país cada vez mais principiante na arte de construir ideias.
Lemos, sim, desde que seja uma piada, um causo, uma corrente de Whatsapp, mas não gostamos de instruções, manuais ou qualquer em sua versão integral.
Invariavelmente, o assunto passa por uma defesa das tecnologias arcaicas, do livro de papel, do jornal de papel e de outros suportes que pressupõem uma imersão por parte do leitor, já deficitário nessa área desde que rachou a casca do ovo. Mas não era sobre isso que queria falar. Era sobre a educação escravizada pelo riso e pela frivolidade, como se qualquer outro material menos comprometido com o entretenimento e mais comprometido com o conteúdo fosse elitista, hermético, excludente em sua natureza, e que negar a didática moderna é disparar um tiro de funda contra a locomotiva do nosso próprio tempo, num gesto romanticamente ludista de quem sabe que já perdeu a batalha. Paciência. Paciência com quem falha em operar de acordo com o manual e com quem dá nota sete para uma redação com uma receita de miojo no meio. Hoje, a informação é o maior capital intelectual que existe. Amanhã, poderá ser a paciência.