O primeiro vigia é um senhor tranquilo e de bem com a vida. A vocação teria sido o último dos critérios norteadores de sua escolha profissional. Fez o curso porque um sobrinho fez e recomendou, e essa é toda a história. Gosta de ler, de ouvir música e aproveita um namoro tardio, que chegou após o primeiro neto. Os outros dizem que ele é gay quando coloca a roupa de ciclista e vai embora do posto de vigilância montado em uma bicicleta que cumpre todas as normas de segurança, incluindo luzes na traseira e espelho no guidão. Seu sorriso é calmo, e seu tom de voz quer rir junto com os olhos a cada vez que conta algo que julga ser engraçado.
O segundo vigia é um homem duro. Com postura e músculos forjados no exército, tem a cabeça careca e o maxilar sólido, e intimida com a rigidez da fala e a voz alta e impositiva, como são as vozes dos homens das forças armadas.
O segundo vigia é um homem duro. Com postura e músculos forjados no exército, tem a cabeça careca e o maxilar sólido, e intimida com a rigidez da fala e a voz alta e impositiva, como são as vozes dos homens das forças armadas. Tem a mão mutilada por um acidente durante os tempos de soldado, e para ele a carreira de vigilante é uma extensão de sua faculdade bélica. Raramente desliga do papel de soldado, que interpreta com sua vida inteira. Gosta de atirar e fazer exercícios em casa para manter a forma. Não é completamente avesso a se abrir com as pessoas próximas, mas em sua conversa quase sempre acaba soando como um militar, com dominância e subserviência paradoxalmente mesclados em seu tom.
O terceiro vigia é um garoto. De pele escura e porte robusto, mescla traços indígenas e negroides em uma compleição que seria considerada exótica para um estrangeiro. Fala firme e anda com o peito estufado a mostrar o poderio que conquistou com sua carreira. Marrento. Confessa que gosta de ser vigia para poder andar armado e botar banca na vagabundagem. Suas mãos grossas indicam que fez trabalho pesado no passado, e as marcas em seu rosto dizem que teve um passado difícil. Como um jogo de torres de madeira, têm-se a impressão de que, com algumas peças a menos, teria arrumado ainda assim uma maneira de andar com a imponência que a arma lhe proporciona caso não tivesse conseguido se tornar vigia. Não foi o que aconteceu. É bondoso e se interessa pela vida dos outros, embora seu tom seja sempre intimidante.
O primeiro vigia poderia estar em outro lugar. O segundo vigia necessariamente estaria no mesmo lugar. Mas o terceiro vigia, deixa escapar com algum traço de sua personalidade, precisaria estar ali de qualquer jeito.