Recebi um arquivo via internet do Vasko. É o novo disco de sua banda, Bernays Propaganda, uma espécie de disco-punk-indie da Macedônia. Conheci Vasko e sua gangue em um buraco sujo em Helsinque, em 2013, chamado Lepakomies (“homem morcego”, exatamente). O bar tem um porão onde bandas se apresentam e as poucas almas finlandesas dispostas a sair de casa na depressiva capital se amontoam para ver estrangeiros berrando palavras de ordem em línguas tão incompreensíveis para eles quanto o finlandês é para o resto do mundo.
Foi uma experiência incrível. A esposa de Vasko, Kristina Gorovska, age como um Mike Patton de saias, gritando de forma cômica e agressiva como se perdida em um transe de loucura. As músicas, quase todas cantadas em macedônio, possuem uma sonoridade que enchem de raiva ao mesmo tempo em que põem para dançar. Depois de umas cervejas sentados em uma mureta do lado de fora do bar, ficamos amigos e mantivemos contato. Pouco tempo depois, fizeram sua primeira turnê nos Estados Unidos e, quando finalmente visitei a capital Escópia, em 2014, descobri que eles já eram considerados celebridades em seu próprio país e uma das bandas balcânicas mais ativas do mundo.
Conheci Vasko e sua gangue em um buraco sujo em Helsinque, em 2013, chamado Lepakomies. O bar tem um porão onde bandas se apresentam e as poucas almas finlandesas dispostas a sair de casa na depressiva capital se amontoam.
Politika, o disco novo, não tem uma bateria orgânica. As melodias, significativamente mais melancólicas que o disco anterior, Zabraneta Planeta (“Planeta Proibido”), são acompanhadas de uma batida eletrônica, artificial. O espírito punk, especialmente a parte do Do It Yourself, fica apenas nas letras, enquanto o instrumental flerta com uma espécie de avant-garde musical do fim dos anos 80. Temas como a guerra, o exército e a sempre presente sociedade do consumo continuam a ser o motivo das canções. Coisas que fazem mais sentido para o público dos balcãs, traumatizados com uma guerra civil que tem pouco mais de vinte anos e que convive com batalhas esporádicas de sérvios com kosovares, albaneses com macedônios e por aí afora, do que para o povo brasileiro. Mesmo assim, Vasko disse que queria que o público brasileiro conhecesse a banda, já que a América do Sul é uma espécie de fronteira final para a banda bem estabelecida entre russos, bielorussos, ucranianos e outros eslavos europeus. Disse-lhe que adoraria vê-los tocando por aqui, mas que a ideia de punks que soam como um Yeah Yeah Yeahs tresloucado parecia exótica demais para quem está culturalmente mais próximo dos Estados Unidos e da Inglaterra. Ele então colocou o disco novo no Bandcamp da banda e pediu pra eu dar uma força, acreditando no poder do Do it Yourself. Bom, cá estamos nós em um veículo de cultura independente, lutando contra o establishment do jornalismo cultural e fazendo a nossa própria cena, de modo que pensei “por que não?”.