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Nikolai Leskov: o mais russo dos russos

A obra de Nikolai Leskov é sólida e maciça, mas por ela é possível entrever as obsessões e angústias do imaginário popular da Rússia czarista.

porYuri Al'Hanati
23 de abril de 2015
em Literatura
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Nikolai Leskov: o mais russo dos russos

Imagem: Reprodução.

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A literatura é um vasto campo de talentos desconhecidos e deixados para trás. Não há nenhuma novidade aí. Para a Rússia, entretanto, que tanto se orgulha de ter publicado o que havia de melhor na literatura mundial do século 19 e da primeira metade do século 20, ter um mestre da narrativa como Nikolai Leskov (1831-1895) olvidado pelo público e pela crítica mostra que a política talvez não devesse andar tão próxima da literatura. Enquanto sua obra vai sendo descoberta pela crítica mais uma vez, aqui no Brasil a Editora 34 publicou dois livros de contos do autor: A Fraude e Outras Histórias e Homens Interessantes e Outras Histórias, e um romance: Lady MacBeth do Distrito de Mtzensk.

Leskov, um dos primeiros a introduzir em sua narrativa as idiossincrasias linguísticas do povo, teve sua obra censurada na primeira metade do século 20 por Stálin, mandatário russo. Dotado de pensamentos progressistas, em voga na Rússia desde a infame derrota na Guerra da Crimeia, ao mesmo tempo em que não acreditava numa possível insurreição popular contra o czar, Leskov desagradou politicamente a ateus revolucionários e ortodoxos monarquistas — gregos e troianos, que o relegaram ao ostracismo, ainda que fosse lido à exaustão pelo povo. Sua obra resistiu graças ao admirador e também escritor Máximo Górki, que afirmou que Leskov era o “mais russo dos escritores russos”, e a alguns intelectuais que o citaram, dentre os quais destaca-se o famoso ensaio de Walter Benjamin, “O Narrador: Considerações sobre a Obra de Nikolai Leskov”, em que aponta o autor como um narrador ideal.

Natural de Oriol, uma cidadezinha central da Rússia – de onde, aliás, saíram pelo menos dois outros grandes nomes da literatura do país: Ivan Turguêniev e Leonid Andrêiev (os primeiros poemas do prêmio Nobel Ivan Búnin também foram publicados lá) – Leskov dedicou os primeiros anos de sua produção literária a passar para o papel as lendas orais campesinas do interior da Rússia. O seu contato com a diversidade cultural do vasto país é estreitada ainda mais quando, em 1957, assume um posto de auxiliar de administrador de fazendas e passa a conhecer os mais remotos pontos do território russo.

Leskov, um dos primeiros a introduzir em sua narrativa as idiossincrasias linguísticas do povo, teve sua obra censurada na primeira metade do século 20 por Stálin, mandatário russo.

A experiência de Leskov com o fabulário rural pode ser vista em Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk. Trata-se de uma remontagem shakespeariana publicada em 1865 na revista Epokha, editada por Dostoiévski, que ganhou adaptação para a ópera por Shostakovich e para o cinema por Andrzej Wajda. Diferentemente da Lady Macbeth inglesa, que se mata tomada de culpa em meio à carnificina que desencadeia, Catierina Lvovna (seu sobrenome é derivado da palavra “lev”, que significa leão em russo), a Lady de Mtzensk, ascende sem uma fagulha de hesitação, e mesmo quando cai em desgraça e passa a ser subjugada e humilhada, não há nada além da dor de não ter mais o poder.

Tudo isso é ainda mais notável se considerarmos que Leskov constrói sua Lady Macbeth e outros personagens sem esmiuçar suas personalidades em fluxos de consciência. Seu trabalho é todo de fora para dentro, narrando não mais do que as ações e os cenários, como um escultor que entalha na madeira sem a possibilidade de moldar a obra por dentro, ou em partes destacáveis. A obra de Leskov é sólida e maciça, mas por ela é possível entrever as obsessões e angústias do imaginário popular da Rússia czarista. Descobrir a literatura de Nikolai Leskov é, portanto, descobrir parte do pensamento russo comumente ignorado.

Texto publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo em 20/10/2012.

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