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‘Cândido ou O otimismo’ que não se sustenta

porTamlyn Ghannam
6 de agosto de 2017
em Literatura
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Foto: Reprodução.

Foto: Reprodução.

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O protagonista que dá nome a Cândido ou O otimismo (1759), de Voltaire, é um jovem rapaz que mora em um belíssimo castelo em Westfália, cujo barão é o pai da bela Cunegundes. Dentre os moradores do castelo está Pangloss, filósofo otimista e preceptor de Cândido, direcionando-o sempre ao que é bom. Tudo está correndo bem com Cândido, no “melhor dos mundos possíveis”, quando ele se apaixona pela filha do barão e é expulso do castelo. A partir daí, tem início uma série de desgraçadas absurdas: ele é torturado, roubado, enganado, sobrevive a um naufrágio e a um terremoto em Portugal (que de fato aconteceu)… tudo isso ocorre para que Cândido, enfim, questione a pregação otimista de Pangloss, sua visão positiva que até então lhe servira de guia.

Cândido ou O otimismo é um título de difícil encaixe nos gêneros literários tradicionais. Chamá-lo de novela, como muitos o fazem, destoa da noção francesa que só dá esse nome às narrativas plenamente realistas. Por isso, na corrente literária francesa, o livro é visto como um conto filosófico.

Aqui leva-se em consideração a visão dos teóricos franceses sobre o gênero conto, fundamentalmente fantástico e inverossímil. A alcunha de filosófico deve-se, justamente, ao fato de ele abordar temas pertinentes à filosofia. Nesse sentido, Cândido ou O otimismo problematiza a própria noção de ficção a partir dessa miscelânea de gêneros, da convivência entre irreal e o real, e do aparecimento de acontecimentos históricos como marcadores temporais dentro de uma narrativa fantasiosa.

Além dessa mistura, a ironia é outro recurso estilístico presente no livro do início ao fim. Logo na primeira página do livro, as alfinetadas de Voltaire são notáveis. Ele afirma que o barão de Thunder-ten-tronckh era um dos senhores mais poderosos de Westfália porque “seu castelo tinha porta e janelas. O salão maior tinha até uma tapeçaria de enfeite”. Esse ar zombeteiro do narrador voltairiano percorre toda a obra.

Outra excepcionalidade do conto é a frequência frenética de acontecimentos surreais. Embora os personagens sejam praticamente convencionais, na medida em que representam tipos característicos da sociedade da época, eles protagonizam um acúmulo de eventos miraculosos e sobrenaturais que intencionalmente beiram o cômico.

Cândido ou O otimismo problematiza a própria noção de ficção a partir dessa miscelânea de gêneros, da convivência entre irreal e o real.

Cândido performa um personagem importantíssimo na literatura mundial pois carrega dentro de si as contradições comuns à condição humana. Ele trava uma batalha interna entre o que sempre foi tido como certeza absoluta e aquilo que ele enfrenta no mundo real, juntamente com outras filosofias com as quais entra em contato enquanto compõe sua própria trajetória. Esse conflito entre teoria e prática é parte dos seres humanos, cujas convicções são inevitavelmente contestadas à medida em que adquirem experiência.

No período em que o livro foi escrito, a Igreja era quem comandava o Estado francês, sem que houvesse qualquer expectativa de liberalismo na França. Voltaire, como filósofo do início do Iluminismo, defendia a política liberal, sem espaço no seu país. Trazer ao Cândido ou O otimismo personagens que representassem os vícios das instituições francesas, especialmente da Igreja, foi a forma adotada pelo autor para censurar o absolutismo católico e os hábitos político-religiosos da França, onde até mesmo o saber era filtrado por ideais religiosos, e a filosofia, constantemente vinculada à teologia.

Mesmo Pangloss é um personagem que reproduz de maneira caricatural e satírica um filósofo alemão que realmente existiu: Leibniz. Ele propunha um sistema filosófico-teológico baseado no otimismo, na crença do mundo como o melhor dos mundos possíveis, já que criado por Deus, a criatura perfeita. Esse idealismo é frequentemente contestado pelas mais absurdas e tenebrosas situações que recaem sobre as personagens de Voltaire, diante das quais nem o mínimo pensamento positivo é capaz de resistir.

As observações voltairianas, de fato, não se limitam à França. Levando Cândido a conhecer diversos locais do globo e diferentes tipos de pessoas, Voltaire pretende firmar um olhar crítico sobre o mundo, estendendo seus julgamentos para além do território francês. Por conta dessa diversidade de cenário e figuras, nós, juntamente com o protagonista, temos acesso a dois polos opostos. Primeiramente, aos espaços perfeitos (como Eldorado) e aos princípios filosóficos do otimismo; em seguida, aos piores lugares e às mais pessimistas visões de vida.

A presença dos vícios e defeitos em ambos os extremos só prova a imperfeição intrínseca ao ser humano. A conclusão imediata à leitura de Cândido ou O otimismo é que a humanidade é corruptível e diante dessa corruptibilidade universal é inútil apoiar-se em qualquer doutrina radical. O caráter imprevisível da existência e da convivência interpessoal invalida quaisquer pensamentos tão inflexíveis quanto o otimismo e o pessimismo inalteráveis, ingênuos e perigosos na mesma medida. Se o conto filosófico de Voltaire apresenta uma moral, esta é a necessidade da supremacia do pensamento equilibrado sobre as ideias tolas e utópicas de melhor ou pior mundo possível.

[box type=”info” align=”” class=”” width=“”]CÂNDIDO OU O OTIMISMO | Voltaire

Editora: Penguin;
Tradução: Mário Laranjeira;
Quanto: R$ 22,30 (184 págs);
Lançamento: Novembro, 2012 (atual edição).[/box]

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Tags: análise literáriaCândido ou o otimismoClássicos da LiteraturaConto filosóficoCrítica LiteráriaEditora 34LiteraTamyLiteraturaLiteratura FrancesaResenhaSamuel Titan JrVoltaire

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