Conhecida nas redes com sua página Karmaleão, Raphaela Corsi é ilustradora, quadrinista e pesquisadora. Com formação em Artes Visuais e pós-graduação em História Cultural e Antropologia, Raphaela tem um trabalho bastante importante com as religiões afro-brasileiras. Ela também é professora na Gibiteca Pública de Curitiba.
Convidada da Bienal de Quadrinhos de Curitiba, Raphaela Corsi conversou com a Escotilha sobre a repercussão do seu trabalho, seus próximos projetos e o uso do desenho e das artes gráficas na educação.
Escotilha » O seu trabalho tem uma marca muito forte na representação das religiões afro-brasileiras e na abordagem de temas ligados aos direitos humanos. De que forma HQs como as suas têm ajudado a oxigenar certas discussões no país? Como você sente a repercussão do seu trabalho?
Raphaela Corsi » Sou umbandista, e acho importante a representação das religiões de matrizes africanas por aquilo que elas são, sem exageros e preconceitos. O meu primeiro livro em quadrinhos, Sankofa: a História dos Afro-curitibanos, mistura uma importante história invisibilizada com o momento atual. Acredito que sempre olhamos para o passado para buscar respostas para o presente, e temos inúmeras questões mal resolvidas para trazer à tona.
Eu sinto que meu trabalho ganhou um certo destaque porque pontua alguns desses temas importantes, necessários para pensar a época que vivemos. Mas sou só mais uma pessoa, dentre tantos artistas que vêm junto nesse movimento de repensar a colonização, o racismo, e toda forma de preconceitos.
Você também está envolvida no projeto Relatos Autistas, com histórias relatadas por pessoas autistas. Como está sendo o processo de criação dessa obra, e como é trabalhar a partir de histórias de pessoas reais?
“Acredito que sempre olhamos para o passado para buscar respostas para o presente, e temos inúmeras questões mal resolvidas para trazer à tona”.
Raphaela Corsi
Sim, ainda estamos trabalhando nesse projeto. O foco dessa publicação é mostrar, em forma de histórias, cada uma das características de pessoas autistas, tendo em vista que cada pessoa é uma pessoa. Algumas com certos aspectos, outras com outros. O espectro autista é bastante variado.
É uma experiência muito boa poder pesquisar e aprender mais sobre esse universo. A ideia do projeto é do Fulvio Pacheco, com experiências pessoais dele e da família, que junto com a Celina Pacheco e a Carol Sakura, trouxeram uma perspectiva muito enriquecedora sobre o tema.
Raphaela, você também atua como professora na Gibiteca de Curitiba. Queria que você falasse um pouco da importância dos quadrinhos para as crianças, e do aspecto pedagógico que eles podem ter. Como você se sente isso na sua vivência com o ensino?
Eu aprendi a ler e escrever com os quadrinhos. Só por isso, já posso afirmar a grande importância das HQs nesse processo.
Acho importante considerar que cada pessoa tem uma forma de aprendizado distinta. Eu mesma sou bastante visual, e quando criança, sempre tive uma facilidade maior para assimilar conteúdos com imagens e desenhos na escola. Por isso, os quadrinhos sempre foram úteis, para além de um passatempo. Penso que considerar os quadrinhos como ferramenta pedagógica tende a enriquecer os conteúdos trabalhados, e fortalecer a criatividade das crianças.
Por fim, queria que você comentasse um pouco sobre como é estar na Bienal de Quadrinhos de Curitiba e o que esse evento significa para os artistas brasileiros.
A Bienal é uma celebração da diversidade dos quadrinhos. São diversos estilos, artistas, nacionais e internacionais e é fundamental para formação de novo público e fomento para novas publicações autorais.
Participar da Bienal como convidada é uma alegria e espero estar sempre presente, acompanhando o trabalho das pessoas que se envolvem com os quadrinhos, tanto artistas quanto editores produtores e pesquisadores.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.