A jornalista bielorrussa Svetlana Alexijevich foi anunciada nesta quinta-feira (8) como vencedora do Nobel de Literatura de 2015. Ainda inédita no Brasil, Alexijevich é conhecida principalmente por suas reportagens polêmicas como Voices from Chernobyl (2005), que reconta o desastre nuclear ocorrido na cidade ucraniana em abril de 1986 por meio do testemunho de 500 pessoas. Seu livro de estreia, War’s Unwomanly Face (1985), já vendeu mais de 2 milhões de exemplares.
O trabalho que realizou sobre a guerra do Afeganistão, Zinky Boys, é considerado um dos relatos mais importantes sobre o conflito. Svetlana Alexijevich chama a atenção também por ser uma das jornalistas mais ativas quando o assunto é jornalismo literário atual. A preferência por temas como guerras, desastres e questões políticas a coloca ao lado de John Hersey (1914 – 1993), que viajou ao Japão para escrever Hiroshima (1946), o doloroso relato sobre a devastação causada pela bomba nuclear.
Apesar de ter escrito contos e ensaios, Alexijevich somente encontrou a sua própria identidade quando se dedicou ao jornalismo. Defensora ferrenha da não ficção, a mais recente Nobel coloca a reportagem como gênero literário inequívoco aos nossos dias.
Svetlana Alexijevich chama a atenção também por ser uma das jornalistas mais ativas quando o assunto é jornalismo literário atual.
Uma questão pessoal
Para o jornalista Julian Evans, o trabalho de Alexijevich possuiu um fundo emocional e pessoal. Em um artigo que escreveu para o jornal The Telegragh, em 2005, relembra que a Bielorrússia recebeu grande parte das emissões nucleares de Chernobyl. “Foram perdidas 485 vilas e, hoje ainda, um em cada cinco bielorrussos vive em terras contaminadas”, relembra Evans.
Para Sara Danius, secretária permanente da Academia Sueca, responsável pelo Nobel, Alexijevich é uma escritora extraordinária. “Nos últimos 30 ou 40 anos ela esteve ocupada mapeando o indivíduo soviético e pós-URSS. E isso não é uma história sobre acontecimento, é uma história sobre emoções”, disse.
Histórico
Nascida em 31 de maio de 1948 na cidade ucraniana de Ivano-Frankovsk, Svetlana se tornou a 14.ª mulher a receber o maior prêmio da literatura mundial. Sua escolha marca também outra questão importante: desde a queda do Muro de Berlim nenhum escritor de país que fez parte da URSS havia sido escolhido pela Academia Sueca.
A escritora, que veio de uma família de trabalhadores, deixou a escola para se tornar repórter em um jornal da cidade de Narovl.
Casa de apostas
Como acontece todos os anos, casas de apostas dos Estados Unidos e da Inglaterra ficaram abarrotadas de palpites sobre quem seria o vencedor do Nobel de Literatura. Segundo as esoclhas de apostadores, Alexijevich era a favorita. Quem a escolheu levou cinco vezes o valor de sua aposta.
Em segundo lugar ficou o escritor japonês e ídolo pop Haruki Murakami. O queniano Ngũgĩ wa Thiong’o estava em terceiro entre os preferidos para o láureo.
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