Pio Vargas é um dos maiores (senão o maior) poetas goianos. Seria uma promessa para a literatura brasileira. Um poeta precoce, já escrevendo desde tenra idade. Tendo começado a escrever seu primeiro livro aos 13 anos de idade. Não apenas precoce, mas talentoso. Mesmo com a pouca idade, Pio Vargas já era um grande poeta. Um poeta que tinha em seus versos uma força literária que possuía um potencial que seria revolucionário. Seria, pois o jovem poeta de jeito simpático e carismático morreu por overdose de cocaína aos vinte e seis anos.
Começando como um escritor sob a influência da literatura beat (e seguindo-a de diferentes formas através de seus escritos) e depois estando dentro daquilo que seria apropriado chamar de “engenharia literária”, aos moldes de João Cabral de Melo Neto, Pio Vargas se constituiu um grande poeta, um poeta de peso.
No livro Pio Vargas: Poesia Completa, organizado pelo também poeta Carlos Willian Leite, podemos ver toda a criatividade da poesia varguiana, toda sua desenvoltura com o jogo sígnico das palavras. Nos primeiros livros, mais acentuadamente em Janelas do Espontâneo, pode-se perceber ainda certa desorientação de Pio; dá para sentir que ele ainda está se encontrando, ainda existem certos traços de irregularidade, de certo nervosismo e de algumas influências esmagadoras que norteiam sua poesia. Mas como o livro é uma espécie de escalada de um poeta ainda cru e desatinado para um poeta dono de sua poesia, de um estilo próprio, de uma escrita peculiar, isso é natural. Contudo, já na sua fase madura, Pio Vargas mostra a capacidade de sua criação poética. Com seu jeito brincalhão (mas concentrado) de escrever, Pio parece uma criança brincando com as letras numa sopa de letrinhas, se divertindo com as palavras.
Com seu jeito brincalhão (mas concentrado) de escrever, Pio parece uma criança brincando com as letras numa sopa de letrinhas, se divertindo com as palavras.
Pio Vargas é um poeta que prima pela elaboração estética da poesia. Um poeta que usa e abusa de brincadeiras com as palavras, como no poema “O erro é humano”: “para todo/ erro/ há dez/ culpas”; ou ainda em “Inflação”: “quem/ não tem dinheiro/ nem nota”. Tirando sempre mais significados do que as palavras aparentam ter, ou elaborando ressignificações, Pio Vargas é um poeta surpreendente, seja por sua pouca idade, seja por sua inventividade. Um poeta que, mesmo sendo tão novo, já se mostrava completo, cheio de modernidade, com um projeto poético-estético que, se o tempo lhe fosse maior, seria um grande divisor de águas na poesia brasileira.
O poeta goiano ainda é um campo aberto para exploração. Desconhecido do grande público, Pio permanece como um objeto precioso cujo valor real ainda não foi avaliado em toda sua grandeza e riqueza. Os seus leitores sabem da sua dimensão, da sua capacidade de transformar o banal em matéria da poesia mais qualificada. Sua consciência do ofício de poeta e da sua profunda potência ainda precisam da devida exploração. Há necessidade, cada vez mais premente, de se aprofundar no oceano de possibilidades que é Pio Vargas.
Sobre ele, disse Paulo Leminski: “Pio Vargas tem um ‘eu’ coletivo tão forte que chego a vê-lo muitos. De sua poesia, consigo extrair a certeza do que digo, insistente: há uma geração recente que usa e abusa da modernidade, fazendo dela o principal elemento a interferir na criação. Este Pio Vargas me trouxe uma poesia fascinante que não se atrela a falsos modelos de invenção, mas flutua, inventiva, com os mais amplos e possíveis signos do fazer poético”. Apontado por muitos críticos e pelo próprio como o sucessor de Leminski, Pio Vargas é um poeta que carrega em sua poesia um universo de significações e saberes, que nos provocam os mais diversos sentimentos, sejam eles de falta de reação ou de ter a nítida impressão de “estar diante de um gênio”.