Ao longo da série sobre Literatura Fantástica nós já vimos como as duas concepções a respeito dela se estruturam, colocando lado a lado a noção do Fantástico enquanto um gênero, implementado por Todorov, e a ideia de modo discursivo, que coloca sob o guarda-chuva da Literatura Fantástica qualquer texto que aborde o sobrenatural e o insólito, disponível nesse link. Em seguida, vimos o desenvolvimento histórico da Literatura Fantástica e suas vertentes, tanto em solo estrangeiro como nacional, no segundo texto da série (veja aqui).
No penúltimo texto da série, apresento algumas antologias que servem para ampliar os horizontes em relação à discussão teórica proposta nas outras publicações, difundir algumas produções e autores clássicos, mas principalmente abre as portas para os leitores que querem entender mais sobre a produção fantástica. Vale ressaltar que a lista está organizada em ordem alfabética, não segundo critérios de importância ou de ordem de leitura.
- Antologia da Literatura Fantástica, org. Adolfo Bioy Casares, Jorge Luis Borges e Silvina Ocampo (Cosac Naify, 2013)
A Antologia da Literatura Fantástica, publica pela extinta editora Cosac Naify, oferece uma perspectiva ampla que abrange diferentes formatos, como contos, peças e trechos de romances, diversos países, como França, Argentina, China e Inglaterra, e autores vivos em diversas épocas, percorrendo desde o século IV a.c. até a segunda metade do século XX. Isso faz com que tenhamos textos de autores como Lewis Caroll, Julio Cortázar, James Joyce, Franz Kafka, Rudyard Kipling, Tsao Hsue-Kin, W.W. Jacobs e dos três organizadores.
No entanto, como é originária dos cadernos onde os escritores anotavam ideias e influências, não há uma preocupação pedagógica na antologia e sua amplitude pode gerar algumas dificuldades, como dúvidas ou mudanças bruscas nos formatos e estilos. Mas de qualquer forma, como afirma o posfácio do livro escrito por Walter Carlos Costa, a Antologia… tem uma grande importância histórica por, entre outras coisas, firmar o gênero, destacar e valorizar nomes argentinos, cruzar barreiras linguísticas e ser assunto frequente da crítica.
A edição tem a versão dos próprios organizadores como base para a tradução e está esgotada, sendo vendida apenas em sebos.
São algumas antologias que servem para ampliar os horizontes em relação à discussão teórica proposta nas outras publicações, apresentar algumas produções e autores clássicos, mas principalmente abre as portas para os leitores que querem entender mais sobre a produção fantástica.
- Contos de Assombro, org. Alcebíades Diniz (Carambaia, 2018)
Segundo o posfácio do livro, escrito por Alcebíades Diniz, a escolha do nome por “Contos de Assombro” vem pelas incertezas nas nomenclaturas sobre a produção do fantástico e adota o assombro no sentido do acontecimento insólito. Nesse texto, destaca a importância da crítica especializada do século XX para determinar a história, as formas e a característica da produção, destacando estudos como “O horror sobrenatural na literatura”, de H.P. Lovecraft, o trabalho de Adolfo Bioy Casares e a Antologia… citada acima, o livro Introdução à literatura fantástica, de Tzvetan Todorov, e as pesquisas de David Roas, compiladas no livro A ameaça do fantástico.
O livro procurar retratar a produção que considera o ápice da literatura fantástica, produzida entre o século XIX e o início do século XX. A escolha dos temas tenta cobrir uma diversidade regional e temática em uma seleção de 18 contos e 1 ensaio do Guy de Maupassant. Apesar da multiplicidade ser muito vasta para a discussão em quase duas dezenas de textos, o livro tem alguns pequenos parágrafos introdutórios para a contextualização histórica e, de maneira interessante, traz ao lado dos nomes clássicos, como Hoffman, Stevenson e Allan Poe, a produção de escritores pouco vinculados ao desenvolvimento do fantástico, como Luigi Pirandello, Virginia Woolf e os brasileiros João do Rio e Humberto de Campos.
- Contos fantásticos do século XIX, org. Italo Calvino (Companhia das Letras, 2004)
Assim como a antologia da Carambaia, a seleção fica mais próxima do fantástico enquanto reação à racionalização proposta pelo Século das Luzes. Como critérios de escolha, Calvino procurou apenas um texto de cada autor, obras completas – ou seja, contos – que tivessem até 50 páginas.
Dentro da Antologia, os textos são divididos em duas partes: o Fantástico Visionário e o Fantástico Cotidiano. A primeira parte diz respeito à produção predominante nas três décadas iniciais do século XIX e que traz como questão a crença naquilo que se vê; nas aparições fantasmagóricas e na percepção de um outro mundo, encantado ou infernal, por trás da aparência cotidiana. No segundo momento os textos mostram outra construção narrativa, onde os elementos visuais são minimizados e o fantástico é mais sentido do que visto, é insinuado. São narrativas mais psicológicas que se mantém até o começo do século XX.
Como exemplo dos clássicos vistos na primeira categoria, o Fantástico Visionário, alguns nomes de destaque são E.T.A. Hoffman, Walter Scott, Honoré de Balzac e Nikolai Gogol. Na segunda parte, do Fantástico Cotidiano, aparecem escritores como Edgar Allan Poe, Charles Dickens, Ivan Turguêniev, Nikolai Leskov, Henry James, R.L. Stevenson, H.G. Wells e Rudyard Kipling.
Apesar da predominância de escritores europeus e das restrições ao período temporal e a forma, a antologia de Italo Calvino é a que tem maior preocupação didática e prepara uma breve introdução sobre a importância do autor e daquela narrativa antes de cada conto.