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‘Escute as Feras’ impressiona ao narrar o embate entre uma mulher e um urso

Em 'Escute as Feras', a antropóloga francesa Nastassja Martin conta a sua experiência transformadora após sobreviver ao ataque de um urso na Sibéria.

porMaura Martins
11 de novembro de 2024
em Literatura
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Imagem: Reprodução.

Imagem: Reprodução.

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Escrito pela antropóloga francesa Nastassja Martin, Escute as Feras (Editora 34, 2021, tradução de Camila Boldrini e Daniel Lühmann), é um livro sobre uma tragédia. Em 2015, Nastassja estava na Sibéria estudando o povo indígena even, que passou a viver lá após a dissolução da União Soviética, sobrevivendo da caça, da pesca e da coleta. Só que, em certo momento, ela desobedece uma orientação e acaba sendo atacada por um urso.

Por algum milagre, ela reage e consegue sobreviver a esse ataque matador (o erro de Nastassja, conforme aprendemos no livro, foi ter encarado os olhos do urso). Com o rosto destroçado, a antropóloga é levada para um hospital da Rússia e depois para a França, lugares em que começa a refletir sobre o significado desse encontro.

Avessa a uma vida convencional, Nastassja Martin se descreve como um daqueles seres humanos que não se satisfazem com as regras. Ela quer saber um pouco mais, participar um pouco mais, entender o quanto o universo é uno e circular, e tudo sempre volta e retorna às origens.

Por conta disso, ela usa sua bagagem acadêmica para retornar ao princípio. A antropóloga escreve: “tudo aparentemente vai bem. Mas alguma coisa atormenta, belisca as entranhas, a cabeça também arde, tenho uma sensação de fim de mim mesma, também de fim de ciclo”.

Retificando: este é e não é um livro sobre uma tragédia. É uma obra sobre uma mulher que se joga ao abismo e volta de lá transformada, com algo a mais. Volta em processo de fusão com um urso.

‘Escute as Feras’: a retomada do selvagem

Capa da edição brasileira de ‘Escute as Feras’. Imagem: Editora 34 / Arte: Escotilha.

Desorientada após ter sido atacada pelo urso, Nastassja passa por uma nova jornada, que consiste em entender quem ela foi e quem ela será a partir de então. Este potente livro autobiográfico fala, então, dessa transformação que ocorre por quem enfrenta uma tragédia dessa proporção. No caso dela, sua experiência é atravessada por sua trajetória na antropologia, o que significa que ela passou por um processo inevitável de fusão com os povos que estuda.

Não há mais como voltar: a escritora agora é miêdka, nome dado às pessoas que foram atacadas por um urso e agora são “meio a meio”. Sua anfitriã na Sibéria, a matriarca Dária, lhe explica: “significa que os seus sonhos são os dele ao mesmo tempo que são os seus”.

Nastassja Martin vira uma mulher-urso, capaz de entender que tudo que existe na Terra está interligado.

Nastassja Martin vira então uma mulher-urso, capaz de entender que tudo que existe na Terra está interligado – animais, rios, plantas, solo, árvores – assim como bem sabem os even. Ela passa a ter consciência de que conhecemos as coisas por vários canais, por mensagens que chegam de diferentes lugares. “Sonhar com significa ser informado”, documenta em certo momento do texto.

Escute as Feras também aborda todo o sofrimento da mulher atacada (mas que se recusa a simplesmente demonizar o urso) e sua passagem algo conturbada por diferentes hospitais, que travam uma espécie de “guerra fria hospitalar franco-russa” frente aos tratamentos que lhes são impostos. Cansada dessas disputas e do olhar apenas científico imputado pelos médicos à situação, Nastassja toma a decisão de voltar à Sibéria, pois sabe que agora nada mais será igual.

Ela sabe que a dor que a atravessou, na verdade, é a que envolve a passagem por um limiar, tal como a morte. Meio urso, meio morta-viva, Nastassja retorna ao cotidiano com um conhecimento que poucos têm. E amarra isso de forma brilhante: “nesse dia 25 de agosto de 2015, o acontecimento não é: um urso ataca uma antropóloga francesa em algum lugar nas montanhas de Kamtchátka. O acontecimento é: um urso e uma mulher se encontram e as fronteiras entre os mundos implodem. Não apenas os limites físicos entre um humano e um bicho que, ao se confrontarem, abrem fendas no corpo e na cabeça. É também o tempo do mito que encontra a realidade; o outrora que encontra o atual; o sonho que encontra o encarnado. A cena acontece nos dias de hoje, mas poderia muito bem ter ocorrido há mil anos”.

Não é por acaso que esse pequeno livro virou uma sensação literária, e gerou adaptações no teatro. Porque ele fala sobre coisas que vão além do que a nossa mente racional e cartesiana é capaz de assimilar – e, só por causa disso, já vale a leitura.

ESCUTE AS FERAS | Nastassja Martin

Editora: Editora 34;
Tradução: Camila Boldrini;
Tamanho: 112 págs.;
Lançamento: Setembro, 2021.

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Tags: antropologiaEditora 34Escute as ferasLiteraturaNastassja Martin

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