Fernando Koproski é um dos nomes fundamentais da literatura brasileira contemporânea. Com quase um quarto de século de carreira, o escritor – além da vastíssima obra como poeta e prosador – foi o primeiro tradutor de Leonard Cohen no Brasil e um dos principais democratizadores dos versos malditos de Charles Bukowski.
Com uma produção imensa e cheia de boas surpresas, chegou a hora de passar a limpo o sangue do poeta, como diria Jean Cocteau. Pequeno dicionário de azuis reúne todo o trabalho autoral de Koproski, desde seu livro de estreia, Manual de ver nuvens (1995), até poemas inéditos do ano passado, passeando também sobre a fortuna crítica e entrevistas com o autor.
Muito mais que uma grande coletânea – o volume tem 660 páginas –, o livro é um presente para o leitor – que pode se debruçar com calma sobre todo o universo koproskiano –, repleto de singeleza e cuidado, como se cada verso fosse um origami. A trilogia Um Poeta deve morrer – Nunca seremos tão felizes como agora (2009), Retrato do artista quando primavera (2014) e Retrato do artista quando verão, outono, inverno (2014) – é o ápice de sua poesia confessional e merece uma leitura atenta e cuidadosa.
Fernando Koproski: ‘a poesia é um acaso, uma espécie de acidente, uma voz que chama não os melhores, nem os mais belos, mas provavelmente uma convocação aos mais feios’.
Pequeno dicionário de azuis é, como diria Lou Reed, amadurecer em público. O Koproski que publicou aos 20 anos já não é mais o mesmo de À Procura da poesia mais pura (2017). Seu olhar sobre o mundo mudou, sem que para isso fosse necessário deixar de lado a inocência e crença na pureza. Há, obviamente, uma desconfiança, principalmente com os academicismos e os caga-regras. Esses não têm chance com o curitibano. Não há perdão para os chatos, diria Cazuza. Para Koproski, vale o mesmo.
Se existe, por um lado, um ideal de beleza, por outro o que sobra são os escombros de Curitiba maldosa e antropofágica – aquela mesma Curitiba que exigia que seu filho fosse invisível, algo que Jamil Snege reclamou há mais de 20 anos e que, pelo visto, não mudou. Por isso, a poesia é um ato de nobreza, uma ode à musa, à pessoa perfeita. “Para fazer poesia você precisa de um assombro, um insight, uma inspiração, alguma espécie de gatilho de fogo para ‘atravessar o espelho’ e encontrar o poema lá do outro lado”, afirma.
Em tempos de tanto extremismo e medo, a poesia surge como uma flor no asfalto. É preciso coragem para nadar contra a corrente que tão forte tem puxado. “A poesia é um acaso, uma espécie de acidente, uma voz que chama não os melhores, nem os mais belos, mas provavelmente uma convocação aos mais feios, desajustados, talvez problemáticos ou simplesmente despreparados para ficar frente a frente com a beleza e a verdade”, comenta o poeta em uma das entrevistas de Pequeno dicionário de azuis.
PEQUENO DICIONÁRIO DE AZUIS | Fernando Koproski
Editora: 7Letras;
Tamanho: 660 págs.;
Lançamento: Janeiro, 2018.