Ainda que a infância de Jules Verne (conhecido nos países de língua portuguesa como Júlio Verne) seja permeada por mistérios, como o boato de que teria subido a bordo de um navio como grumete e resgatado por seu pai, a verdade é que o escritor francês teve uma vida bastante pacata. Enviado a Paris enquanto cursava a faculdade de Direito, Verne aos poucos se apaixonou pelas letras e desistiu da advocacia, profissão de seu pai.
Enquanto morou na capital francesa, o escritor frequentou sua Biblioteca Nacional e lá teve a oportunidade de consumir diversos materiais sobre literaturas de viagem, periódicos científicos e suas últimas descobertas. Como mostram os seus livros, sua grande paixão era a geografia.
A obsessão para seguir em frente e conhecer novos espaços era pautada pela possibilidade de ser real. Verne sempre colocava em seus livros um extenso material factual, algumas vezes copiados de manuais e outras fontes científicas, que pudessem dar suporte para sua narrativa.
Essa admiração pela estrutura terrestre foi vista em diversos de seus livros, desde as profundezas do mar até as entranhas da Terra. Como diz Adam Roberts em A Verdadeira História da Ficção Científica, “as ficções de Verne tocavam o substrato o desejo humano de que ainda houvesse lugares misteriosos por descobrir”.
A obsessão para seguir em frente e conhecer novos espaços era pautada pela possibilidade de ser real. Verne sempre colocava em seus livros um extenso material factual, algumas vezes copiados de manuais e outras fontes científicas, que pudessem dar suporte para sua narrativa. Mas a importância desses conhecimentos parava na questão do contexto.
As teses científicas que Verne usava em suas Viagens Extraordinárias não passavam de um suporte romanesco para a sua literatura. Como diz Roberts, “embora Verne aproprie-se de muitas das linguagens preocupadas com o ‘fato científico’, seus livros não são factuais e com certeza tampouco proféticos. Seus livros mobilizam várias pertinências ideológicas e culturais contemporâneas, mas não o futuro”.
Verne escreve livros falam de avanços da ciência e os extrapola. Sua perspectiva, burguesa, apresenta um mundo como recurso a ser explorado, muitas vezes dentro de um clima claustrofóbico, onde a escuridão aparece como um símbolo daquele princípio do desconhecido.
Em Viagem ao centro da Terra, Verne nos apresenta a história do professor Lindenbrok que, seguindo os passos de Arne Saknussem, parte com seu sobrinho Axel e seu fiel ajudante Hans rumo ao interior da crosta terrestre.
A jornada surge a partir das orientações do bilhete criptografado que foi encontrado: “desce à cratera do Youcul de Sneffels que a sombra do Scartaris vem beijar antes das calendas de julho, ó viajante audaz, e tu chegarás ao centro da Terra. Eu o fiz. Arne Saknussemm”. A partir daí, os dois cientistas partem rumo à Finlândia e começam sua aventura.
O que se destaca nesse livro é a percepção do ideal civilizatório, sua aura otimista do desenvolvimento científico e o embate entre a racionalidade perante os sentimentos, que permeia todos os momentos da vida de Lindenbrok – com pendências óbvias para o pensamento racional.
Na relação de Hans e Lindenbrok, vemos a submissão de um “bom selvagem”, que obedece e arrisca sua vida sem pestanejar, não fala outro idioma além do seu (apresentado como algo rudimentar, quase selvagem) e é desprovido de qualquer qualidade além da força bruta. Dessa relação de dominação, tudo é justificado pelo lema do professor: Em frente! Em frente!
VIAGEM AO CENTRO DA TERRA | Jules Verne
Editora: Zahar;
Tradução: Jorge Bastos;
Tamanho: 240 págs.;
Lançamento: Abril, 2016 (edição atual).
[button color=”red” size=”small” link=”https://amzn.to/2w2wsYW” icon=”” target=”true” nofollow=”false”]Compre com desconto[/button]