A banda londrina The Maccabees nunca foi de surpreender. Desde que surgiram fazendo aquele rock basiquinho, que era uma consequência do Strokes e do Franz Ferdinand e de toda a onda indie que assolou a Inglaterra na década passada, eram mais uma banda que nunca captou minha atenção completamente, orbitando um universo que eu tratava com certa indiferença. Quando coloquei Marks To Prove It para rodar, não dava um real para o novo álbum. Mas foi só chegar ao refrão de “Kamakura”, a segunda da lista, para eu passar a prestar muita atenção.
Definitivamente não parecia o mesmo The Maccabees de antes. Com certeza, não é a mesma banda. É como se aquela onda indie homogeneizante tivesse se dissipado por completo e libertado o quinteto para se expressar sem a obrigação de ter que agradar.
Lotados em um diminuto estúdio de apenas dois quartos no sul de Londres, o quinteto passou mais de dois anos gravando e desenvolvendo novos sons, mas nada que criasse novas músicas exatamente. Pairava a sensação de que não teriam um álbum no final das contas. Mas as coisas começaram a se encaixar, a vida entre eles naqueles dois cômodos passou a fazer mais sentido e Marks To Prove It, o melhor e mais maduro disco dos ingleses, tomou uma forma mais soturna e emocional, um pouco melancólico e introspectivo, bastante intenso e muitas vezes inesperado.
Enquanto “Marks to Prove It” é direta e poderosa, “Spit It Out” torna-se um rock contrariando tudo o que sua introdução atmosférica indicava que seria. Lá pela metade, ela volta a ficar climática, com um piano soturno, antes de voltar a colocar força e intensidade nas guitarras. “Ribbon Road” é menos intensa e com as guitarras dos irmãos Felix e Hugo mais contidas, enquanto o teclado dá os sons que vão criar a ambientação da faixa. “Silence”, construída ao redor do piano e dos teclados, é uma balada de pura ambientação. “River Song”, talvez a faixa mais próxima do experimental que os The Maccabees já gravaram, é um atestado de como souberam servir-se bem da enorme quantidade de sons que desenvolveram em estúdio antes de possuírem faixas de verdade onde usá-los.
A abertura sonora e maturidade demonstrada em Marks To Prove It começou, é verdade, com Given To The Wild (2012), que já era bem diferente do indie de Colour It In (2007) e Wall of Arms (2009). O baixo, que ao longo dos quatro álbuns anteriores da banda sempre esteve meio escondido, me pareceu melhor aproveitado. No novo disco, ele é superconsistente, fazendo uma base de respeito em “Something Like Happiness” enquanto o teclado, bem alto, dá as melodias da música em sua parte mais dinâmica; e ao longo de toda a linda “Slow Sun”, que traz o instrumento comandado por Rupert Jarvis para o primeiro plano.
Marks To Prove It, o melhor e mais maduro disco dos ingleses, tomou uma forma mais soturna e emocional, um pouco melancólico e introspectivo, bastante intenso e muitas vezes inesperado.
Se dava para usar alguma coisa de Strokes e de Franz Ferdinand (além de outras bandas inglesas do mesmo naipe) para comparar os The Maccabees, agora as referências são outras. O álbum é mais como a mistura de sentimentos, ambientações e formas musicais de bandas como Interpol e The National. A união perfeita ocorre na fantasmagórica “Dawn Chorus”, com seu dedilhado onipresente, seu baixo agudo, clima de sonho e arranjos de sopro que trazem um ar mais jazz para a canção.
“WW1 Portraits”, que também poderia ser uma experiência, desemboca em uma parede sonora de um rock cheio de guitarras e teclados. “Pioneering Systems” é um exercício de expressão e contenção. Toda a banda está na faixa, mas estão tão cientes do clima geral dela que nenhum ousa tocar mais alto, para não estragar o clima. Cabe a nós procurarmos cada som na mixagem final.
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E “Kamakura”, uma das melhores faixas do álbum, é como o atestado sóbrio de uma maior maturidade dos The Maccabees, sobretudo por causa da letra. “Ele arrancou sangue do nariz do melhor amigo que conhece / Foi a única vez que chorou desde os 7 anos / Seu melhor amigo te perdoa / Seu melhor amigo esquece que você envelhece”, canta Orlando Weeks.
Não é um disco difícil de ouvir, mas quem gostou do que o quinteto fez no disco passado possivelmente não vai se identificar com a nova proposta. Nada daquelas guitarrinhas sujinhas dos primeiros álbuns ditando o ritmo. Agora a banda está mais etérea e mais profunda, sobretudo com as grandes contribuições da tecladista Rebekah Raa. Os Maccabees se tornaram melhores músicos e, embora a música ainda seja entretenimento, não é mais algo raso e despreocupado. Enquanto banda, abandonam a adolescência para encarar desafios maiores, propondo objetivos maiores para si mesmos. O que se espera é que o público também tenha crescido com eles.