Mergulhar no universo da indústria da música evidencia o quão pouco sabemos sobre ela. Quando lançamos um recorte sobre o braço independente da música, o abismo parece ficar maior. E essa é uma das grandes motivações desta coluna, ir a fundo e desconstruir nossas próprias percepções sobre música.
Da Bolívia já mostramos o indie da Mammut e o pop do Avionica. Mas ainda não era suficiente para compreender a dimensão sonora de um país tão rico culturalmente e do qual, infelizmente, pouco temos informação. Se parte disto é culpa da postura imperialista do país frente a seus vizinhos, um desdém sem hora para acabar, a outra parcela é de responsabilidade unicamente nossa.
Pós-internet, é inaceitável o argumento de que não temos acesso à informação. O mais correto seria, então, afirmar que não temos interesse em conhecer. Idiossincrasias brasileiras à parte, o grupo desta semana é mais um exemplo do quão diversa (e ainda assim próxima de nós) a cena boliviana pode ser.
A PervClub é um duo formado em La Paz que trabalha a proposta de retorno aos anos 80, em especial a new wave. Com dois EPs lançados, e um novo single a ser disponibilizado na próxima quinta-feira, a dupla incorpora elementos de música eletrônica e synthpop, resultando em uma obra dançante, envolvente e saudosista.
Sigur e Shaggall, a dupla por trás da PervClub, estão envoltos em uma nuvem de anonimato, seguindo à risca uma rota contrária aos artistas contemporâneos. Enquanto a superexposição parece ser prática comum a qualquer artista que divulga seu trabalho, é na contramão que os criadores da PervClub encontram uma forma original e instigante de potenciar o interesse por seu trabalho.
Mesmo os perfis de Sigur e Shaggall nas redes sociais carregam apenas as imagens símbolo do grupo, no melhor estilo Space Invaders. Essa mística criada pela dupla vai ao encontro inclusive das referências que permeiam a PervClub. “Nós dois temos fortes influências da new wave e da cena post punk do final dos anos 70 e princípio até meados dos anos 80”, conta Sigur, em entrevista exclusiva concedida pela dupla. “Fazemos pop simples e ao mesmo tempo complexo”, completa Shaggall. Simple Minds, Soda Estereo, Tears For Fears e Depeche Mode são apenas alguns dos artistas que você pode notar nas composição do grupo.
‘Nós dois temos fortes influências da new wave e da cena post punk do final dos anos 70 e princípio até meados dos anos 80’; ‘Fazemos pop simples e ao mesmo tempo complexo.’
Sobre a cena boliviana, que vive uma grande efervescência criativa, os músicos fazem questão de apontar que, ainda que pequena, vem apresentando propostas muito interessantes. “A música folclórica sempre será massiva em nosso país, o gosto pela música não tradicional ainda é minoria, mas é disso que se trata: fazer música que abra espaço na cena musical boliviana e do mundo”, aponta Sigur. E nesse sentido, a internet é uma ferramenta primordial de difusão para o trabalho deles. Spotify, SoundCloud, Instagram… eles vivem uma vida digital com relativa intensidade.
As composições contam com apoio de muitos artistas, como a cantora boliviana Montserrat Arce e a francesa Christine Wornom. Para Shaggall, há entre eles uma conexão natural. “Sentamos e as composições vão saindo quase de maneira espontânea. Creio que não seja algo que aconteça com todos os grupos”.
Entre os planos futuros da PervClub estão o lançamento de um álbum completo. “Além disso, vamos lançar alguns singles que redefinem nossa identidade sonora e são um pouco como experimentos que gostamos muito. Relembrando que o próximo single sai amanhã.
O MERCADO LATINO-AMERICANO
Inúmeras são as propostas que vão se espalhando pela América Latina que visão aproximar esse continente tão grande, tão semelhante e, ao mesmo tempo, tão diferente. Sejam nos projetos do Scream & Yell, sejam as edições do El Mapa de Todos (que este ano foi adiada até abril de 2017), existe uma movimentação em direção a uma maior integração entre os artistas latinos. E fazer parte deste grupo é uma meta da dupla boliviana. “Festivais como o Lollapalooza e outros são espaços que difundem músicas de diferentes gêneros e que convocam bandas mais representativas da região e do mundo. É nossa meta tocar nestes festivais”, afirma Sigur.
Para Shaggall, a confluência dos artistas indie e da cena independente fazem parte do atual universo musical latino. “Nesta dinâmica, estratégias independentes convergem com as estratégias comerciais maiores. Você precisa aprender a mover-se nessas áreas, mas sempre mantendo sua essência”.
MÚSICA BOLIVIANA
Pedimos a Sigur e Shaggall que indicassem aos leitores que artistas bolivianos deveriam escutar. “Dentro do gênero indie e com influências de pop retrô gosto de bandas como Avionica, Mammut, Odas e Ciudad Líquida”, indica Sigur. “Também mencionaria artistas de outros gêneros como Imilla MC e MafiAndina, que fazem hip hop, Cultura Anonima, que faz ska”, indica Shaggall. “Mas falar das novas propostas bolivianas implicaria em outra entrevista”, finaliza. E por que não, não é?
NO RADAR | PervClub
Onde: La Paz, Bolívia.
Quando: 2015.
Contatos: Facebook | Soundcloud | Twitter | Bandcamp | YouTube
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