Acompanhar um artista desde o início. Desde o primeiro álbum, a primeira música. Os acordes, as intenções. Após isso, a carreira. A obra. O conjunto, o todo. Aquilo que o artista foi, é. E o que ele será, pode-se imaginar? Como estamos lidando com arte, não há exatidão em passos. Há vivências, percepções, sensações, perdas, experiências e conforto. O conforto cria, e também é explorado e agraciado. Mas o desconforto… ah, o desconforto! É a mola propulsora da arte genuína, do fazer artístico para além de qualquer conveniência mundana.
Imaginemos um músico que está em seu segundo disco. O primeiro foi um sucesso. E agora? O que será deste segundo trabalho? O conforto, o desconforto? Melhor desertar, partir para outro ramo, outro rumo, outra arte? Será o momento de arriscar-se? A custo de quê? Há custo em arte? O que é o sucesso? Essas e outras questões podem estar na mente de um músico, como também podem fazer o menor sentido para ele. A arte é a arte, a reprodução das suas experiências e influências.
Winston Yellen é responsável por um fazer artístico que se propõe ao desconforto. Primeiro, com relação a própria sonoridade: Country Sleep (2013), o disco de estreia do Night Beds, alcançou bom sucesso junto ao público, além de ser bastante elogiado pela crítica. O álbum misturava elementos da folk music a um country alternativo. A habilidade vocal de Yellen é notória, expande-se e divaga por sobre o estilo musical que havia escolhido para chamar de seu. Sua voz faz lembrar (também) alguns pares, como Bon Iver e Robin Pecknold, o vocalista do Fleet Foxes.
Winston Yellen é responsável por um fazer artístico que se propõe ao desconforto.
Segundo Yellen, tal sonoridade foi desenvolvida após um bom tempo em que o cantor e compositor ficou recluso em sua casa (Nashville), ouvindo Johnny Cash e meditando sobre conflitos pessoais – desemprego, desventuras amorosas e existenciais. E neste ponto está o segundo desconforto que Yellen promove no Night Beds, a de usar todas essas questões de foro íntimo como válvula de escape para letras, composições, arranjos. Em Ivywild, segundo disco do Night Beds, lançado em agosto de 2015, essas questões confessionais (fim de um relacionamento, o sucesso pós primeiro disco, a reclusão) voltam a surgir.
https://www.youtube.com/watch?v=hML_d50n-ps
E é a única similaridade que há entre os dois discos, esse desconforto relatado em palavras. Ivywild, sonoramente, é algo completamente distinto de Country Sleep: saem o folk e o alt-country e surge o pop experimental e a R&B. Se não fossem as letras e o belo vocal e Winston Yellen, poderíamos dizer que não se trata do mesmo artista. É um disco maior se comparado ao de estreia: 65 minutos em Ivywild, 34 minutos em Country Sleep. Há mais tempo para experimentar, para divagar pela R&B, soar como Frank Ocean, Daniel Johns.
Ao todo, vinte e cinco músicos estiveram presentes na gravação de Ivywild. Há excertos preenchidos por violino, piano – há um quê de música clássica em algumas canções, como “Finished”. Ao mesmo tempo, o synthpop está marcante em boa parte do álbum. Yellen não sabia manejar e trabalhar com samplers, prática desenvolvida no decorrer deste disco.
https://www.youtube.com/watch?v=hnrEV4PI0WU
Ou seja, o Night Beds reinventou-se musicalmente, tanto para buscar o novo quanto para desenvolver algo que suprisse a ausência do primeiro álbum, em razão do próprio Yellen dizer que não conseguiria repetir um Country Sleep por ter sido único, experiência de vida (e sonora) que não se repetirá. E assim, regido a desconfortos e sonoridades singulares, o Night Beds começa a construir a sua carreira.
Eis a sugestão: acompanhar o artista desde o início.