Na última semana, usei a coluna para fazer uma provocação ao público, aos patrocinadores, à Fundação Cultural de Curitiba e aos artistas (leia aqui). Acho importante tornar a falar que em momento algum procurei fazer juízo de valor ou criticar o mérito ou a qualidade dos artistas mencionados. Foi uma grata surpresa o retorno positivo recebido do texto, assim como, no lado contrário da esteira, foi uma pena o silêncio de quem eu gostaria que visse no texto uma oportunidade para o diálogo.
Como a cidade fervilha desde a divulgação dos selecionados para a edição 2015 da Corrente Cultural, os textos desta e da próxima semana estarão focados em falar sobre alguns dos artistas que se apresentarão nos próximos dias 07 e 08 de novembro. A Machete Bomb é um dos grupos que estará nos palcos da cidade. Já falamos sobre o trabalhou da banda (leia aqui) nesta coluna. Eles serão os responsáveis por encerrar as atividades do Palco Ruínas, dia 08, às 20h.
No mesmo palco estarão outros dois filhos da cidade que já passaram pela Prata da Casa. Rodrigo Lemos e Trombone de Frutas são dois ótimos trabalhos da cena musical curitibana na atualidade. Na esteira do lançamento de seu novo trabalho, Pangea I Palace II, Lemos subirá ao palco das Ruínas de São Francisco no domingo, 08, às 12h. Já a turma do Trombone de Frutas fará seu show no dia anterior, sábado (07), às 18h. No caso deles, fica a torcida para que sejamos contemplados com alguma das versões de Vinicius de Moraes, que fizeram em recente show na cidade.
Jenni Mosello
Jenni Mosello também se apresentará no Palco Ruínas. Com show marcado para o domingo, 08, às 14h, a cantora deve mostrar as canções de seu recente disco, o EP Sketches. Todo cantado em inglês, o trabalho é um bom retrato de uma nova geração, antenada com o que há de mais hype por aí.
Jenni tem um timbre de voz bem característico da nova música pop, mesclando a potência do jazz, blues, soul e dream pop, sendo um prato cheio para amantes de vocais femininos. A cantora assina três das cinco canções do disco, mostrando que, ao contrário do que reza a lenda no cenário da música pop, não só de intérpretes é feito o gênero.
O trabalho de Jenni Mosello é um bom retrato de uma nova geração, antenada com o que há de mais hype por aí.
As canções de Sketches são despojadas, até certo ponto despretensiosas, abordando temas como liberdade, amor, autoestima e sonhos em um casamento bem conduzido entre ritmo, letras e arranjos. O disco é muito bem produzido. Para completar, Jenni Mosello domina o palco, além de ser incrivelmente doce com seus fãs pessoalmente e nas redes sociais, o que demonstra que, além de tudo, a cantora segue bem a cartilha de outros nomes que criaram forte relação com o público via internet, como Cícero e Clarice Falcão.
Mesmo que no disco uma ou duas faixas pudessem ter sido melhor trabalhadas, de forma que seu ápice fosse atingido em plenitude, talvez através da mudança de tom que possibilitasse um maior poder vocal, isso não chega a prejudicar o EP, que é uma excelente maneira de mostrar uma colorida página da cena musical curitibana. Se não for o suficiente para você, reforço a mensagem dizendo que Zé Rodrigo, um dos maiores músicos do Paraná em atividade, é um dos que já dividiram palco com a garota. Não que eu creia que ela precise da chancela de alguém, mas é um ótimo incentivo, não?
Sketches está disponível no Spotify, YouTube e Soundcloud.
Os Irmãos Carrilho
A música de raiz é fundamental na carreira de um cantor ou grupo musical. A partir dela, é possível entrar em contato com a essência do que te faz único. O músico uruguaio Daniel Drexler definiu bem a importância dela no documentário A Linha Fria do Horizonte. É o local que te faz universal. E talvez seja isso que torne o som d’Os Irmãos Carrilho tão ímpar hoje em dia.
O folk norte-americano, famoso nos violões de Bob Dylan e Bruce Springsteen, aquele que buscava na música country a força necessária para retratar um novo momento na transição de épocas e espaços, na estrada entre o rural e o urbano, é incorporado em influências regionais brasileiras no trabalho da dupla, formada por Alexandre Provensi e Matheus Godoy.
Prestes a lançarem seu primeiro full-lenght, a dupla estabelece sua identidade em composições e arranjos que dependem e muito da entrega vocal da dupla. Nos singles “No Tempo que Passou” e “Vida, Vida, Vida”, ambos disponíveis no Bandcamp da banda, é possível notar que a crueza dos timbres d’Os Irmãos Carrilho é literalmente mais uma camada nesta construção estética.
É possível notar que a crueza dos timbres d’Os Irmãos Carrilho é literalmente mais uma camada nesta construção estética.
O músico, ator e apresentador Rolando Boldrin mostrou nos últimos 30 anos, através de programas como Som Brasil e Sr. Brasil, como os ritmos e temas regionais brasileiros permitem que se crie algo genuinamente rico, culturalmente falando. Nesta confusão entre metrópole e campo, entre concreto e terra, Os Irmãos Carrilho vestem a matutice para interpretar causos contemporâneos.
E é a partir dessa concepção de mundo interiorano em uma cidade como Curitiba, que Provensi e Godoy tornam-se abrangentes, forças na audaciosa missão de fazer música popular de DNA universal e, ao mesmo tempo, tipicamente brasileira. A mistura deu tão certo que a dupla irá se apresentar na sexta edição do festival El Mapa de Todos, em Porto Alegre.
Os Irmãos Carrilho se apresentam no sábado, 07, às 18h, na Praça da Espanha.