No próximo dia 10 de novembro, domingo, a Balaclava Records coloca em ação a 14ª edição de seu já tradicional evento, o Balaclava Fest. Pelo terceiro ano consecutivo, um dos principais festivais da cena indie e alternativa do país ocupará o Tokio Marine Hall, desta vez com quatro atrações internacionais.
Foram selecionados pela curadoria o trio Dinosaur Jr., o quarteto de jazz psicodélico canadense BADBADNOTGOOD, o duo de nova-iorquinos do Water From Your Eyes e a produtora inglesa Nabihah Iqbal. Tá na duvida de quem é quem e o que esperar desse time gringo do Balaclava Fest? Vem que te explicamos tudo abaixo.
Dinosaur Jr.
Dinosaur Jr. é uma daquelas bandas cujo som define uma era e, ao mesmo tempo, a transcende. Nascida na turbulenta cena underground de Amherst, Massachusetts, em 1984, a banda rapidamente se destacou com seu estilo que misturava o agressivo e o melódico, criando um som que não era fácil de classificar. O que torna o trio – composto por J Mascis, Lou Barlow e Murph – tão fascinante é a forma como eles não se encaixam perfeitamente em nenhuma categoria específica. Eles são frequentemente associados ao grunge, ao indie rock e até ao noise pop, mas, na verdade, Dinosaur Jr. sempre operou em sua própria órbita sonora.
Na superfície, sua música é dominada pelo som dos solos de guitarra de Mascis, que se tornaram a assinatura da banda. Esses solos não são meramente técnicos – eles são prolongados, descompassados e, de alguma forma, emocionalmente catárticos. Ouça uma faixa como “Freak Scene” (do álbum Bug, de 1988) e você vai entender o impacto que eles têm.
A banda é frequentemente creditada como uma influência central no grunge dos anos 1990, e sua estética pode ser vista em grupos como Nirvana e Mudhoney. Mas, ao contrário do grunge, o Dinosaur Jr. nunca se rendeu totalmente ao niilismo; sua música sempre manteve uma abertura melódica. Em vez de destruir tudo no caminho, como algumas bandas grunge fizeram, o trio parece, paradoxalmente, criar algo bonito a partir dos destroços.
Eles mesclam elementos de rock clássico e folk, mas com uma sensibilidade alternativa que os torna imensamente modernos, mesmo décadas após seus lançamentos. Isso é, em parte, o que mantém o Dinosaur Jr. relevante até hoje – a capacidade de Mascis de fazer com que seus riffs de guitarra e seu desinteresse vocal continuem soando frescos, mesmo quando ele está se repetindo.
Em um show ao vivo, a banda não se importa em “performar” no sentido mais convencional. Eles simplesmente se apresentam, como se o ato de tocar fosse a coisa mais natural do mundo, e, de fato, para Mascis, talvez seja. O volume é ensurdecedor – outro detalhe importante. Ouvi-los ao vivo é uma experiência física, não apenas auditiva.
BADBADNOTGOOD
O quarteto BADBADNOTGOOD é uma daquelas bandas que fazem você questionar tudo o que sabe sobre gêneros musicais. Eles surgiram como um quarteto de jazz canadense – até aí, nada de surpreendente. Mas ao escutar o trabalho deles, você percebe que “jazz” é apenas a ponta do iceberg. Desde que se formaram em 2010, em Toronto, o grupo redefiniu o que significa ser uma banda de jazz contemporânea, diluindo as fronteiras entre o jazz, o hip-hop, a música eletrônica e o R&B.
O que os torna interessantes é o fato de que surgiram como outsiders. Eram quatro estudantes do programa de jazz do Humber College, mas, em vez de mergulharem nos padrões clássicos, o que realmente os unia era o amor pelo hip-hop, em particular, por artistas como J Dilla e MF DOOM. Seu álbum de estreia, BBNG (2011), era uma espécie de manifesto: um trabalho instrumental que misturava covers de Odd Future e A Tribe Called Quest com a improvisação livre do jazz. Isso não era só inesperado – era, para muitos, um sacrilégio. A ideia de uma banda de jazz interpretando hip-hop instrumental com tamanha intensidade e liberdade causou espanto nos puristas, mas conquistou rapidamente um novo público.
Pelo terceiro ano consecutivo, um dos principais festivais da cena indie e alternativa do país ocupará o Tokio Marine Hall, desta vez com quatro atrações internacionais.
Seus primeiros shows foram brutais, quase punk em energia, algo que se tornaria a marca registrada do grupo. Não era só sobre a complexidade musical – era sobre como eles a entregavam. Sour Soul (2015) foi um ponto de virada na trajetória deles. Era a prova de que eles não eram apenas uma banda de covers jazzy de rap – eles podiam colaborar com uma lenda do hip-hop e criar algo autêntico, uma fusão natural entre dois mundos. Ele cristalizou o que a BADBADNOTGOOD fazia de melhor: criar paisagens sonoras cinematográficas e cheias de groove, nas quais o jazz e o hip-hop se encontravam de forma harmoniosa, mas sem perder a aspereza.
O ponto mais interessante sobre o quarteto é o que eles não são. Eles não são uma banda de jazz “de vanguarda”, apesar da destreza técnica de seus integrantes. Eles não são uma banda de hip-hop, mesmo que as batidas de Alexander Sowinski soem como algo saído diretamente de um disco de J Dilla. Eles não são uma banda de R&B, apesar de suas colaborações frequentemente se encaixarem nesse molde. Eles representam algo maior do que si mesmos. Em um mundo em que as fronteiras entre os gêneros musicais estão cada vez mais difusas, eles são o exemplo perfeito de como os músicos contemporâneos podem navegar por essas águas turbulentas, criando algo que não pertence a um único espaço, mas que, paradoxalmente, pode ocupar todos eles ao mesmo tempo.
Water From Your Eyes
A Water From Your Eyes é uma banda que sempre parece estar à beira do colapso criativo – mas é exatamente nesse precipício que eles brilham. O duo do Brooklyn, formado por Rachel Brown e Nate Amos, é, em essência, uma experiência sonora que desafia qualquer tentativa de classificação. Eles emergiram da cena indie experimental como algo mais do que apenas uma curiosidade; são mestres da contradição, criando música que simultaneamente te repele e te prende, que parece se desfazer em suas mãos, mas é estranhamente coesa. Ao ouvi-los, você tem a sensação de que tudo está prestes a explodir – e é isso que torna o som deles tão viciante.
Combinando elementos de post-punk, música eletrônica, art pop e até mesmo um toque de lo-fi, o som do Water From Your Eyes é fragmentado, quase caótico, mas de uma maneira que sempre parece estar sob controle. Tome como exemplo seu álbum de 2021, Structure. Esse título, aliás, já parece uma provocação – porque o que há menos na música deles é qualquer senso de estrutura tradicional. A faixa “Quotations” soa como uma gravação de estúdio que foi desconstruída e remontada por um produtor que passou a noite em um ciclo sem fim de insônia. Melodias tortas, batidas cortadas e a voz inexpressiva de Brown criam uma experiência sonora que parece pairar entre o art-rock mais cerebral e o desespero sincero do pós-punk.
Em qualquer outra banda, isso poderia parecer uma bagunça sem foco, mas na Water From Your Eyes, há um método no caos. Cada ruptura, cada dissonância, parece cuidadosamente planejada para testar o ouvinte, desafiando qualquer tentativa de se acomodar confortavelmente na audição. No entanto, talvez o maior trunfo do duo seja a sua habilidade de fazer algo experimental parecer acessível – quase, ouso dizer, dançante.
Nabihah Iqbal
A artista e produtora inglesa Nabihah Iqbal é daquelas que não aceitam fronteiras. E, se você for minimamente atento ao mundo em que vivemos, entenderá que isso é uma coisa boa. Em uma era onde a música é definida tanto por algoritmos quanto por uma necessidade crescente de fundir estilos, Iqbal parece não estar preocupada em agradar ou seguir tendências.
Sua abordagem é infinitamente mais interessante – ela cria a partir de uma vasta gama de referências culturais e musicais, formando um som que não é tanto uma fusão, mas uma verdadeira tapeçaria de influências que abrangem desde o pós-punk até a música eletrônica, passando pela tradição musical do Sul da Ásia. Iqbal é uma artista multidimensional no sentido mais literal. Antes de abraçar a música, ela era uma estudante acadêmica em Cambridge, onde se formou em história e etnomusicologia.
Esse detalhe pode parecer irrelevante, mas sua formação acadêmica é parte fundamental da sua abordagem artística. O tipo de som que Iqbal cria não é meramente uma reação instintiva ao que está à sua volta; é o produto de uma mente que entende profundamente a história da música e da cultura e que está constantemente interrogando o mundo ao seu redor.
Seu álbum de estreia, Weighing of the Heart (2017), é uma obra que combina introspecção com algo palpavelmente político. É um álbum que toma emprestado muito do pós-punk e do dream pop, mas infunde esses gêneros com algo mais espiritual, uma espécie de seriedade discreta que parece emergir de uma profunda meditação sobre identidade. E, de fato, identidade é central na obra de Iqbal. Como uma mulher britânica de ascendência paquistanesa, sua música aborda questões de pertencimento e de como se mover em espaços que, historicamente, não foram feitos para acolher alguém como ela.
Músicas como “Something More” e “Zone 1 to 6000” são exemplos perfeitos de sua musicalidade: são ao mesmo tempo imediatas e evasivas, convidando o ouvinte a dançar, mas também a refletir. Seu segundo álbum, Dreamer (2023), é um mergulho ainda mais profundo em sua estética multifacetada, expandindo suas explorações com sintetizadores atmosféricos e texturas sonoras intrincadas. Este registro é uma ode à introspecção, ao tempo e ao espaço.
Criado durante a pandemia, Dreamer soa como uma jornada pessoal, mas que ressoa em um nível coletivo – uma reflexão sobre isolamento, saudade e o desejo de conexão. Em entrevistas, Iqbal fala com franqueza sobre os desafios que enfrenta como uma artista que navega entre múltiplas culturas, mas é na música que essas questões realmente ganham vida. Então, o que é Nabihah Iqbal? Ela é uma artista eletrônica, uma produtora, uma guitarrista, uma DJ, uma pensadora cultural. Mas mais do que isso, ela é uma criadora de mundos, alguém que se recusa a ser limitada por categorias ou expectativas.
SERVIÇO | Balaclava Fest 2024 com Dinosaur Jr., BADBADNOTGOOD, Water From Your Eyes e mais
Onde: Tokio Marine Hall (R. Bragança Paulista, 1281 – Várzea de Baixo | São Paulo/SP);
Quando: 10 de novembro, domingo, das 15h às 23h;
Quanto: a partir de R$ 325 + taxas;
Classificação etária: 16 anos.
Vendas online no site da Ingresse.
Ponto de venda físico (sem taxa de conveniência):
Takkø Café
R. Maj. Sertório, 553 – Vila Buarque – São Paulo/SP
Horários: terça a sexta, das 8h às 17h; sábados, domingos e feriados, das 9h às 18h.
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