O tempo passa e, invariavelmente, a música acaba sendo revisitada. É o que acontece com os taubateanos da Bemvirá. Formada por Leonardo Santander, Iago Assis, William Barbosa e Israel Castro, a banda acaba de lançar seu primeiro EP, Deveras.
Ainda que seja apenas o primeiro registro da banda, a Bemvirá já está nos palcos do Vale do Paraíba paulista há alguns anos. Leonardo, William e Iago estão juntos desde o ensino médio, ainda que de 2010 para cá as formações não tenham sido as mesmas. Em comum com quase todos os artistas independentes? As dificuldades em viver de música, ainda mais em uma região que ainda privilegia as bandas que fazem cover em detrimento a grupos autorais.
Mas um passo bastante importante foi dado nesse período. A Bemvirá foi selecionada para o projeto Converse Rubber Tracks, iniciativa da marca de tênis surgida inicialmente no Brooklyn, em Nova York, e que desde março de 2015 tem no estúdio Family MOB, de Jean Dolabella (ex-baterista do Sepultura) e Estevam Romera, a versão nacional (o Converse Rubber Tracks também aconteceu de forma itinerante no Brasil, em 2014, quando passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife, além de ter trazido um festival com Dinosaur Jr., Busta Rhymes, Brand New, Minus the Bear e Chromeo).
O maior acerto da Bemvirá é trazer desse mergulho uma sonoridade nostálgica, ainda que o indie rock proposto pelo quarteto seja mais recente, caminhando em muito do que foi feito nos últimos 15 anos por grupos como The Black Keys, Arctic Monkeys e Kings of Leon. Mesmo que seus arranjos acabem não trazendo grandes novidades, eles não soam como repetição de fórmulas previamente concebidas (e reproduzidas à exaustão por inúmeros grupos nos últimos anos).
O maior acerto da Bemvirá é trazer desse mergulho uma sonoridade nostálgica, ainda que o indie rock proposto pelo quarteto seja mais recente.
Em parte, isso acaba sendo fruto do flerte com o lo-fi, mais ocasional do que planejado. “Riviera” é a única registrada em estúdio diferente, mas a Bemvirá conseguiu contornar as possíveis diferenças entre as gravações, mantendo Deveras um disco coeso, homogêneo.
Mesmo que não seja musicalmente desafiador, Deveras é um registro em que a Bemvirá mostra potencial, trabalhando batidas e riffs sem mudanças bruscas, controlando as camadas referenciais dentro da narrativa do disco, traduzindo em nove canções sem maiores ruídos ou esquizofrenia. É um trabalho movido por várias urgências, desde o forte desejo por fazer um recorte de suas próprias histórias em um álbum, até o retrato de uma geração que procura ver-se representada por vozes de seu próprio círculo.
Vale mencionar que apesar do risco assumido ao velejar por um indie rock que por vezes parece saturado, a banda se sai bem, construindo um disco ao mesmo tempo pop, contemporâneo e cheio de saudosismo, sintetizando (e quem sabe encerrando) uma fase inicial do quarteto. Fiquemos de olho no que o grupo trará pela frente, pois o primeiro obstáculo já foi transposto.
NO RADAR | Bemvirá
Onde: Taubaté, São Paulo.
Quando: 2010
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