Praticamente todo mundo sabe que, quando se apresentou em terras brasileiras pela última vez, o Sonic Youth já caminhava mal e por pouco se mantinha junto. Quem leu o livro de Kim Gordon, sabe que a banda de fato acabou aqui, alguns minutos antes do show de Itu e, de quebra, toda a repercussão que isso teve na vida de uma de suas líderes. Ao encerrarem uma parceira que durava quase uma vida, Thurston Moore e Kim Gordon deixaram todos intrigados com os caminhos que seguiriam a partir de agora.
Kim se juntou a Bill Nace no duo Body/Head e lançaram, no dia 13 de julho, mais uma colaboração. Sem ser um EP, mas com uma quantidade de faixas total que quase remete à dos tradicionais EPs, The Switch é um mergulho profundo na experimentação e no talento de Kim Gordon como guitarrista.
Com faixas que beiram 10 minutos de duração, misturando distorções diversas e vocais descompassados, The Switch é uma desconstrução. Curiosamente, por maior que seja o trabalho com texturas sonoras distintas, tudo se completa e se concatena de maneira harmoniosa, produzindo uma sonoridade ímpar.
The Switch é um mergulho profundo na experimentação e no talento de Kim Gordon como guitarrista.
As cinco faixas do álbum totalizam quase 40 minutos de algo que pode ser descrito como uma verdadeira viagem musical. Densa e dissonante em muitos momentos, como é o caso da música que abre o conjunto, “Last Time”, há, ainda assim, passagens que podem ser descritas como verdadeiros mergulhos, uma busca por uma linguagem distinta construída essencialmente pelas distorções e abstrações da dupla.
É um disco cujo cerne não se baseia nas regras que parecem reger a música alternativa contemporânea, e sim algo completamente diferente, muito mais na direção de um projeto estético, quase uma parede sonora de ruídos que se completam, competem entre si e variam contra um pano de fundo comum. Chega a ser difícil traduzir em palavras o que é a experiência de ouvir algo tão distinto do que vemos no cotidiano, algo cuja própria duração e expressão temporal parece estar situadas no agora e não em sua significação pessoal.
Definitivamente, o divórcio serviu para que pudéssemos ver com uma clareza ainda maior que Kim jamais esteve à sombra de Moore durante os anos de Sonic Youth, e que seu gênio criativo consegue ser cada vez mais pulsante, desafiador e merecedor de atenção. Body/Head fez, sem dúvida, um dos grandes lançamentos de 2018, vale a pena ouvir.