A Cadillac Dinossauros é uma das bandas mais bem-sucedidas de Ponta Grossa, o que, consequentemente, a torna uma das mais bem-sucedidas do Paraná. Não se trata apenas da vitória no DMX New Talent, mas isso sem dúvida alguma fez uma grande diferença, como mostra o disco Preto Branco, novo trabalho do grupo, gravado na Toca do Bandido, no Rio de Janeiro.
Preto Branco é uma claríssima evolução no trabalho do trio de Ponta Grossa, que retorna em uma roupagem mais “suja” e provocativa, mostrando o amadurecimento do power trio nestes 10 anos de estrada.
Atração confirmada do Psicodália 2017, a Cadillac Dinossauros deu passos mais firmes depois de Fome (2015), formatando definitivamente a imagem que hoje temos do grupo já a partir de Mundo Bizarro (2016).
Não é incomum que, por vezes, a música feita pelo trio soe torta, resultado claro da opção estética provocativa, resvalando em uma sonoridade hipnótica.
Não é incomum que, por vezes, a música feita pelo trio soe torta, resultado claro da opção estética provocativa, resvalando em uma sonoridade hipnótica. Há um jogo irônico que também permeia a obra e funciona como uma síntese da mensagem que o grupo pretende transmitir. O álbum cria pontes de diálogo entre diferentes vertentes, mas não vira em nenhum momento um discurso cacofônico, exagerado ou caótico, muito menos reforça uma visão pessimista da realidade.
Preto Branco seduz o ouvinte pelos detalhes, como os arranjos milimetricamente construídos. A coesão que faltava a Fome some no novo disco, esculpido de forma distante do pastiche “comercial” que ainda insiste em dar as caras na cena rock alternativa. “Jogo Sujo”, faixa que encerra o álbum, é um exemplo expressivo desta “desconstrução” sonora proposta pela banda.
A boa produção fica evidente ao encaixar elementos de maneira coerente ao longo da obra, ainda deixando brechas para colocações assertivas sobre a contemporaneidade dentro de um contexto musical grandioso. Como toda obra marcada pelas percepções de realidade, Preto Branco exige do ouvinte um despertar para a narrativa apresentado pela Cadillac Dinossauros, além da coragem de trafegar um caminho por vezes instável e repleto de incertezas.
Os contornos existentes no novo material criado por David Barros, Hugo Alex e Billy Joy, esse encontro sublime de riffs, distorções e vozes, são enérgicos o suficiente para fazer Preto Branco largar na frente como uma das melhores obras paranaenses do ano. Uma atmosfera que certamente tirará qualquer ouvinte de sua zona de conforto e o levará a diferentes lugares, pois, como toda boa obra que se preze, as significações depende do ouvinte – e somente dele na maioria das vezes.
Resta conferi-los no Psicodália, ou no serviço de streaming musical mais próximo de você.