No mar de vertentes existentes no rock, algumas por vezes repelem mais do que atraem público. Assim, certos grupos acabam ficando restritos a nichos, que às vezes são autossuficientes, e às vezes não. No hardcore, a história quase sempre se repete. O que é produzido acaba sendo consumido ali dentro. Há muita união, mas pouca penetração no mainstream – salvo exceções.
De tempos em tempos a cena sempre emergia, fazendo com que algum grupo escapasse dos porões e atingisse o grande público. Mas um passo definitivo foi dado quando algumas bandas passaram a tornar sua sonoridade mais complexa, elevando o nível do hardcore para algo muito mais marcante do que os decibéis desprendidos através dos gritos dos vocalistas.
Curitiba e sua forte cena hardcore veem também o fortalecimento do post-hardcore, e encontra na Cefa um nome capaz de marcar época fazendo um som caprichado e harmonioso. Formada por Victor Farias, Lucas Smuk, Israel Cantido, Carlos Sluzala e Caio Weber, já em seu disco de estreia, o EP Os Dias Que Antecedem as Rosas (2012), a banda demonstrou que gritos não são apenas um recurso de marcação de gênero, mas uma opção estética escolhida de forma a representar a expressão de sentimentos, imprimindo nuances de forma muito particular.
Em O Fantástico Azul ao Longe, primeiro full-lenght da Cefa, o grupo retorna mais maduro e fortalecido, demonstrando que as dificuldades enfrentadas foram superadas (entre elas, o falecimento do baterista Rapha Franklin e os problemas de saúde do vocalista Caio), ou neste caso, foram todas postas em cada uma das 10 faixas que compõem o álbum.
Em O Fantástico Azul ao Longe, primeiro full-lenght da Cefa, o grupo retorna mais maduro e fortalecido, demonstrando que as dificuldades enfrentadas foram superadas.
Produzido por Wandley Bala, que trabalhou com a CW7, e gravado no estúdio Total Music, em O Fantástico Azul ao Longe a Cefa dá uma guinada flertando também com o rock alternativo, dando uma roupagem mais melódica ao trabalho da banda. De “Mar Aberto” e sua levada mais ritmada, passamos pela densa “Insônia”, a faixa em que mais se nota o trabalho de Sluzala, baixista da banda.
Poucas vezes foi tão notório como uma banda utilizou um disco como forma de expurgar fantasmas. E o grande mérito da Cefa foi saber fazer isso sem soar apelativo em nenhum momento. Nota-se claramente a entrega do grupo, a dedicação em compor canções que conversassem com seu público de maneira honesta, que fossem pungentes liricamente, uma forma que lhes garante maior penetração pela empatia e fácil identificação com a temática central do álbum.
O ponto alto do disco fica em “Catarse”, canção composta por Weber e que busca inspiração nos problemas enfrentados pelo cantor em 2013. Com um riff bem estruturado e a cozinha funcionando em sintonia, ela é uma verdadeira descarga emocional, fazendo jus ao nome escolhido. Um petardo feito sob medida para um disco harmonioso e delicado na temática, mostrando que vivemos uma época frutífera e efervescente no post-hardcore.