Aos 26 anos recém-completados, Justin Bieber lançou seu quinto álbum de estúdio, Changes, sucessor de Purpose (2015). Como traz no próprio nome, o disco é a tentativa do cantor de criar uma ruptura com o passado, caminhando em direção à maturidade – profissional, musical e pessoal.
O mote não é novidade na carreira de Bieber. Com Believe (2012), o músico canadense também procurou seguir direções novas, deixando de lado a essência teen-pop por uma pegada mais sensual, dando muito mais espaço à dance music e ao R&B. Entretanto, se naquele momento Justin e sua equipe enxergavam a necessidade de ruptura com um passado excessivamente adolescente para transpô-lo ao universo adulto (e tudo o que isso traz consigo), Changes é uma tentativa forçada e frustrada (em todos os sentidos) de demonstrar amadurecimento.
O músico torna a assinar todas as canções do registro, que seguem com a roupagem R&B do trabalho anterior. Porém, é muito difícil captar sensualidade, erotismo ou, o que é pior, verdade nas 17 faixas que compõem Changes. De forma mais sintética possível, Justin Bieber é o Neymar da música pop: mimado, problemático, inconsequente, incapaz de aprender com seus erros e mal assessorado. Talentoso, mas aparentemente incapaz de demonstrar isso de forma contínua e sem necessitar de rédea curta.
É difícil chegar até a voz de Justin em Changes, porque tudo parece milimetricamente composto de forma a criar uma imagem que pouco ou nada diz respeito ao músico. Entre Purpose e Changes tudo mudou em sua vida pessoal, de seu estado civil (agora casado com Hailey Baldwin) ao abandono das drogas. Todavia, aqui Bieber opta por apelar a um erotismo apagado, que já ficava evidente no single “Yummi”, uma repetição grudenta de mais de três minutos de uma sensualidade cafona.
Justin Bieber é o Neymar da música pop: mimado, problemático, inconsequente, incapaz de aprender com seus erros e mal assessorado.
Essa maturidade de araque ganha contornos no single promocional, lançado quando do anúncio do título e da capa do registro. “Get Me”, gravada com a cantora Kehlani, apesar de melhor arranjada que o single anterior, ainda ressoa como café morno. Justin Bieber se esforça em soar autêntico neste dueto que, curiosamente, trata da química que faz com que duas pessoas se autocompletem.
Bieber trouxe para o estúdio Poo Bear, produtor com quem geralmente atua, e Josh Gudwin, produtor e engenheiro de som de confiança do canadense. Porém, a presença da dupla não resultou em um ambiente animado, pelo contrário. Changes é excessivamente repetitivo em sua temática e não inova em nada sonoramente na trajetória de Justin. O artista parece não ter entendido que o que precisava ser poupada é sua energia fora dos palcos e dos estúdios. Ali, ele deveria deixar o sangue, ao menos fingir que esses recortes sobre a vida a dois que procura apresentar são algo além de tediosos, e não para o ouvinte, mas para a própria vida a dois.
Talvez isso explique o porquê Changes seja um disco difícil de se prender. As semelhanças excessivas de temática, arranjo e letras dão ao álbum um caráter exaustivo, pesaroso, cansativo. Não suficiente, toda a narrativa é feita para falar menos de amor (entre Justin e Hailey, obviamente) e mais para falar sobre o Justin que ama – ou que merece ser amado (alguma semelhança com aquele comercial de Neymar no pós-Copa 2018?).
Sendo justo, Justin não assinou nenhuma espécie de acordo afirmando o tipo de maturidade a que essas “mudanças” do título se referiam. Tanto que o músico surfa em sua zona de conforto: opta pelo R&B, pelos parceiros de longa data e pelo refúgio em falar o tempo todo sobre si (numa espécie de terceira pessoa mal concebida). Bieber é limitado e nós sempre soubemos isso. Logo, talvez esse disco meio quadrado seja o que podemos esperar dele. E, quem sabe, Purpose tenha sido seu auge. Pouco para quem tem tantos holofotes, mas às vezes muito para suas limitações.
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