Começou hoje e vai até o próximo dia 23, na cidade de Campinas, interior de São Paulo, o Festival Autorock. Campinas já foi chamada em diferentes momentos da “capital nacional do rock”. O último momento marcante da cena musical underground dos últimos 30 anos no Brasil, quiçá o mais importante, aconteceu justamente na “terra das andorinhas”: o Juntatribo.
Do dia para a noite, os olhos do Brasil voltaram-se para a cidade, criando um movimento favorável ao surgimento de várias bandas e o fortalecimento das já existentes. Acontece que essa “maré de sorte” um dia passou, outras cidades país afora fortaleceram suas cenas (Recife, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte, principalmente) e, não bastasse isso, o rock entrou em declínio comercial.
Nove anos separam a segunda edição do Juntatribo da primeira do Autorock, porém um detalhe fundamental os aproxima: Daniel “ETE” Pacetta Giometti, músico, dono da loja Chop Suey Discos e produtor cultural. Ao longo de 12 anos, algumas coisas mudaram no Autorock, menos a iniciativa de fomentar a cena autoral independente nacional e regional, bem como outras formas de cultura.
Nesta edição, serão onze dias de festival a começar por hoje, com um evento na Loja disORder com a banda Os Coveiros (formada pelos integrantes da banda campineira AQUëLES), que tocarão apenas covers de bandas campineiras (é a única apresentação não-autoral do Autorock) como Coice de Mula, Suite Number Five e Lunettes. A abertura contará ainda com exposição de desenhos e fotografias. A entrada é gratuita.
Ao longo de 12 anos, algumas coisas mudaram no Autorock, menos a iniciativa de fomentar a cena autoral independente nacional e regional.
A agenda completa você pode conferir no evento criado pela página oficial do Festival Autorock no Facebook (clique aqui). Confira a seguir alguns dos artistas que irão se apresentar e chamaram nossa atenção:
MUZZARELAS
Muzzarelas é um dos grupos underground brasileiros mais representativos. São 24 anos fazendo música para beber (ou bebendo para fazer música). A banda, formada por Alex Kiss, Daniel ETE, Marcel Lobisomem, Flavio Urbano e Niola, faz uma mistura insana de punk, garage rock e metal.
Um show dos Muzzarelas é (e sempre será) uma catarse coletiva regada (literalmente) a cerveja, muita cerveja.
LO-FI
A Lo-Fi, banda de São José dos Campos, divide a noite de sexta com os Muzzarelas. Love Songs Vol.1, lançado no final de 2014, foi produzido por Fábio Mozine, músico das bandas Mukeka di Rato, Merda e Os Pedrero. Fazendo um mix entre punk e bubblegum (mesmo que muito próximos, existem diferenças entre essas vertentes), a Lo-Fi deve agitar o palco do Woods.
CIRCUS BOY
Formada em 2008 como uma banda de cover, foi a partir de 2012 que Pedro Lopes, Paulo Button e Alexandre Cruz decidiram investir no som autoral. Apostando no stoner rock, algo pouco comum entre os grupos da cidade, a Circus Boy se apresenta no palco da Praça Ruy Barbosa no sábado, dia 15.
Seu último EP, Anubis Mt’ey, é pesado como o gênero pede, e vai, sem sombra de dúvida, agradar os fãs de Kyuss, Queens of the Stone Age e Alice in Chains (principalmente quem se agrada com as primeiras demos do início da carreira do grupo de Seattle).
BALÉ BARBÁRIE
A Balé Barbárie talvez seja uma das bandas mais interessantes de todo o Festival Autorock 2015. Com forte influência das sonoridades do leste e do sudeste europeu e mesclando isto com jazz e klezmer (música judaica tradicional), o grupo de Campinas é formado por ex-colegas do curso de Música da Unicamp.
Não é coisa de hipster, fique tranquilo. A Balé Barbárie já fez até uma versão klezmer de “Naughty Girl” da Beyoncé. Confira.
https://www.youtube.com/watch?v=6EBamP8VtJE
VIOLENTURES
Stenio, Carlos e Fabio, o trio por trás da Violentures, uma das bandas de surf music mais criativas do Brasil. Desde Garage Boosters (2005), a banda rodou os palcos pelo Brasil, chegando inclusive a participar do Psycho Carnival em Curitiba, em fevereiro deste ano.
Red Sex Fire, segundo disco do grupo, foi lançado em setembro de 2014 e trouxe novas e interessantes camadas de garage rock, dando uma mistura interessante ao power trio campineiro.
SONORA SCOTCH
Esse duo de Bragança Paulista faz um som realmente curioso. Mesclando punk, garage e noise, Eder Takahama e Matias Picón fazem um som cru puxado para o lo-fi, com cara das antigas demos e cantado em espanhol.
E para os que perguntam se não faz falta um baixista, a resposta é não. É justamente essa não-conformidade com os padrões da música convencional, que faz a Sonora Scotch uma banda única, singular. Confira.
DESGRAÇADO
A Desgraçado é uma banda de um cara só e, tal qual a Sonora Scotch, você mal se dá conta disso. Com uma guitarra e a voz bem sujas, esse one man band é literalmente um show à parte.
Apesar da essência punk (e do do it yourself), sua música lembra mais o garage da virada da década de 1980 para 90. Há um quê do texano Jordan Cook (a.k.a Reignwolf) em Márcio Christofoletti, mesmo que com menos doses de virtuosismo (o que não é de maneira alguma um defeito).
FRANCISCO, EL HOMBRE
Francisco, El Hombre talvez seja hoje a banda mais promissora de Campinas. Talvez você ainda não conheça o som dos meninos, mas pode ser que já tenha lido a respeito do grupo, que ganhou certa notoriedade ao serem roubados durante uma tour pela Argentina, no início deste ano (leia aqui).
A banda não tem esse nome por acaso. Formada pelos irmãos mexicanos Sebastián e Mateo Piracés-Ugarte, juntamente com os brasileiros Andrei Martinez Kozykreff, Juliana Strassacapa e Rafael Gomes, a Francisco, El Hombre faz folk latino. Seu segundo EP, La Pachanga, foi lançado no último mês de abril. A banda passa por Curitiba em setembro. Imperdível.
DR. HANK
O quinteto gaúcho Dr. Hank é um dos destaques de umas das cenas autorais mais fortes do país. Misturando rock, groove, brega e salpicando com synthpop, a banda tem um EP lançado e disponível para audição no Spotify.
Em mini-tour por São Paulo (depois de Campinas tocam em Sorocaba e finalizam na capital paulista), a Dr. Hank ainda deve queimar muito o asfalto em 2015 para chegar com todo o pique em 2016, quando devem ir para Los Angeles gravaram o primeiro álbum completo.
BANDIDOS DA LUZ VERMELHA
Outra banda de Campinas a misturar punk, garage e post-punk. Assim como a já extinta banda sorocabana Volpina, a Bandidos da Luz Vermelha faz um som com visão própria da sociedade num tom esquizofrênico e hipinótico. É uma simbiose entre algo “Felliniesco” e “Glauberiano”, se é que isso faz algum sentido. A melhor forma de compreender é ouvindo.
GOLFO DE VIZCAYA
A Golfo de Vizcaya surgiu em 2012. A proposta do rock alternativo do grupo mistura elementos do post-hardcore, post-punk, punk e post-rock. Não se assuste com tantas vertentes, isso ocorre porque o som da banda é realmente uma fusão que cria algo único, difícil de ser rotulado.
Encabeçada por Sylvio Scarpeline, que fez parte da Makazumba e Meia Lua e Soco, bandas que marcaram época na cena independente de Campinas. A Golfo de Vizcaya talvez seja o mais próximo que a música underground chegou de produzir um novo Colligere.