De Marialva, Norte do Paraná, na região de Maringá, vem a banda da “Prata da Casa” desta semana. Fincada nas raízes do rock and roll (mas flertando com outras vertentes) está a Quarto Mágico, power trio formado por João Oliveira, Jean e Matheus. A banda lançou este ano seu primeiro álbum (gravado com a baixista Bárbara), Meu Mundo, repleto de reflexões e questionamentos sobre o tempo e a existência, porém, sem resvalar no pedantismo.
Meu Mundo contém 10 faixas com melodias interessantes e riffs bem trabalhado, indicando que ali temos um grupo sólido e entrosado, que aproveitou o tempo em que atuaram como banda cover para fermentar a sonoridade que desejavam imprimir em suas composições autorais. O nível de variações sonoras e inventividade trazido pelo trio são carregados de potência, obtendo como resultado um som de padrão elevado, sem excessos referenciais que dificultem entender (e assimilar) a identidade do grupo.
A Quarto Mágico faz um trabalho curioso, que une elementos do rock mais clássico com nuances de hard rock, post-hardcore e rock alternativo de forma coesa. Para uma produção totalmente independente, os arranjos soam vibrantes e arejados, trazendo consigo uma ferocidade que combina certeiramente com as composições da banda.
O registro cresce à medida que as audições se acumulam, simplesmente porque não há intervalo no LP, deixando pouco espaço para que o ouvinte disperse.
Com Meu Mundo, o power trio parece ter encapsulado uma habilidade de fazer suas canções soarem pesadas, densas e, ao mesmo tempo, esperançosas, algo digno de elogios. É mais fácil do que se imagina perder-se em uma enxurrada de influências, mas João, Jean e Matheus parecem ter encontrado a medida certa para fazer com que as pistas de cada instrumento brilhem juntas, tornando o grande mérito do álbum (e, consequentemente, da banda) a força de seu conjunto.
Até por isso, é difícil apontar uma faixa que se sobressaia em Meu Mundo, já que nem as letras são feitas por junção de palavras aleatórias, mas, sim, pretendem contar uma história, tecendo pequenos recortes distintos sobre estar vivo e a relação de João (o principal compositor) com mundo. O registro cresce à medida que as audições se acumulam, simplesmente porque não há intervalo no LP, deixando pouco espaço para que o ouvinte disperse.
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Se há dinamismo nesta proposta de rock da Quarto Mágico, ela fica evidente quando eles estão juntos exercendo e inserindo suas qualidades individuais de maneira que pouco se note sobras no álbum. Mesmo nas faixas em que o peso é menor e tendem a um caminho mais lento é notória a propulsão nelas. É difícil de quantificar, mas este primeiro disco já permite separar a Quarto Mágico de dezenas de bandas autorais iniciantes a partir da qualidade demonstrada.
É bom salientar que Meu Mundo não é uma obra perfeita, mas os riffs e as letras formam um pacote muito interessante, abre espaço para que o trio progrida com o tempo e deixa a banda de Marialva em nossos radares para o futuro.