O ano era 2006. Depois de anos dominando as festas e as paradas de sucesso com os chicletes “Mr. Brightside” e “Somebody Told Me”, o The Killers lançava Sam’s Town. Era a consagração da fórmula que havia alçado a banda às paradas de sucesso. Da primeira à ultima faixa, o grupo liderado por Brandon Flowers havia encontrado não apenas seu lugar ao sol como também uma receita que os manteria em evidência pelos próximos anos.
Com um som sempre dançante, no limiar entre o pop desavergonhado e o rock pretensiosamente épico e megalomaníaco capaz de lotar estádios e arrastar multidões, [highlight color=”yellow”]o The Killers se tornou uma dessas bandas na qual o excessivo e o ridículo andam sempre de mãos dadas[/highlight], rivalizando a cada riff ou a cada faixa lotada de sintetizadores. De maneira análoga a Las Vegas, sua cidade natal, a banda nunca teve medo de flertar com referências cafonas na busca por sua identidade sonora.
A banda nunca teve medo de flertar com referências cafonas na busca por sua identidade sonora.
No último dia 22, a banda lançou seu sexto álbum, Wonderful Wonderful. Longe de ser uma obra-prima – ou mesmo uma pérola barroca como foram seus antecessores Hot Fuss ou Sam’s Town – , [highlight color=”yellow”]o novo disco da banda de Brandon Flowers possui alguns méritos bastante óbvios.[/highlight] É provável que seja o trabalho mais maduro e mais consistente da banda, coisa que já fica evidente na faixa de abertura que leva o nome do álbum. O que se encontra é uma banda que soa mais focada, menos levada pelos excessos juvenis dos discos anteriores e realmente empenhada em não apenas tirar do que já é sua carreira e sua identidade apenas mais um álbum que repita uma fórmula de sucesso.
“Wonderful Wonderful” traz os vocais marcantes de Flowers soando ligeiramente soturnos, sem as afetações que o cantor costumava explorar nos discos anteriores (uma observação: ouça novamente “This river is wild”, do Sam’s Town). Aliás, talvez o grande mérito de Wonderful Wonderful seja exatamente esse: uma banda que, apesar de ter passado os últimos 10 anos tentando produzir o hino de uma geração, agora está plenamente ciente de seu papel e de suas limitações e está fazendo o melhor com isso. A impressão que fica após ouvir o disco todo foi que a única preocupação da banda foi lançar um álbum coeso e bom.
Leia também
» Lollapalooza Brasil de 2018 tem o mais interessante lineup de sua história
Os sintetizadores e a vibe meio INXS/Duran Duran que sempre foram a tônica da banda ainda estão presentes aqui, porém trabalhados de maneira mais interessante e madura, e em muitas faixas temos a impressão de que o volume das referências no pano de fundo do álbum foi reduzido em favor de algo mais pessoal. “The Man”, segunda faixa, soa mais pop que rock e lembra o antigo The Killers mais do que o restante do álbum. Já “Rut”, faixa que o próprio Brandon Flowers mencionou em entrevista como sendo uma de suas favoritas, é divertida e despretensiosa, além de soar quase como um pedido para que não desistamos da banda: “Don’t give up/ ‘cause I’m just in a rut”.
Mas o álbum não perde o fôlego após “Rut”, pelo contrário. “Life to come”, “Run for cover” e “Some kind of love” garantem bons momentos no que se configura aos poucos como [highlight color=”yellow”]o melhor e mais consistente álbum de estúdio da banda.[/highlight] Aparentemente, ao se despir do desejo adolescente de produzir hits, a banda encontrou seu foco e conseguiu lançar um álbum quando a maioria das pessoas achava que já não fosse possível. É provável que Wonderful Wonderful esteja longe de ser o melhor álbum de 2017 – e bem, vamos combinar que o ano está sendo povoado por lançamentos memoráveis –, mas sem dúvida se trata de um marco na carreira do The Killers.