Ontem teve início a 19ª edição do Se Rasgum na capital paraense. No palco do Music Park, local que abrigou o African Bar, local de shows icônicos da cidade, uma noite quente encontrou corpos dispostos a pôr à prova os limites de suas capacidades de transpirar.
A pista parecia uma frigideira, potencializada por ares-condicionados que não davam conta de um espaço tão quente quanto o próprio público. Exceção feita a pequenos problemas com o som durante os shows (guitarras baixas, vocais baixos e microfonando), o pontapé do Se Rasgum mostrou porque dissemos que tem tudo para ser uma edição especial.
Iuna Falcão
Com a responsabilidade de abrir o Se Rasgum 2024, a maranhense radicada em Salvador subiu ao palco do Music Park pouco após as 20h. Com um EP e um álbum completo na bagagem, Iuna Falcão fez um show correto, ainda que tenha transparecido um certo nervosismo em momentos específicos.
A apresentação foi marcada pelas canções de Transe, mergulho da artista em sonoridades de sua terra natal, organicamente costuradas com outras referências. Indicada na categoria Brasil do Prêmio Multishow do último ano, Iuna é um evidente talento de uma geração que escapa ao eixo e fica escondida no mar do universo digital. Ouvidos atentos.
Molho Negro & Jair Naves
Suor, riffs e catarse coletiva. Banda da casa, o trio formado por João Lemos, Raony Pinheiro e Antonio Fermentão fez, junto com seu convidado, Jair Naves, não apenas o melhor show da noite, mas uma apresentação que deve ficar entre as mais épicas do Se Rasgum. A conexão da banda com o público, que se não arrastou o maior número de fãs certamente levou os mais elétricos, contagiou o espaço do Music Park.
O pontapé do Se Rasgum mostrou porque dissemos que tem tudo para ser uma edição especial.
Com mais de 10 anos de trajetória e uma extensa e consolidada discografia, a Molho Negro elevou a temperatura que, àquele instante, já não estava baixa. As canções, cantadas a plenos pulmões, embalaram o mosh pit aberto nos primeiros acordes e encerrado apenas e tão somente com o fim do show. Espetáculo que teve a adição visceral de um Jair Naves, ex-líder da Ludovic, emocionado (e suado) desde antes de subir ao palco. Uma união que só uma curadoria muito inteligente poderia fornecer.
YPU
O grupo candango, fruto da união entre Gustavo Halfeld e Ayla Gresta, fez um show que demonstrou o que já se nota em paranoar, disco do ano passado lançado na dobradinha Monstro Discos e Scream & Yell: sobra empenho, falta cancha. Da noite, a apresentação do grupo foi a menos inspirada, ainda que competente.
Depois de um início morno, Ayla foi, aos poucos, dominando o palco e demonstrando algumas de suas características, especialmente a maneira ímpar como seduz o público. Em contrapartida, a YPU ainda patina na definição de sua identidade, trafegando entre a estranheza e a volúpia. Há um óbvio potencial, mas que precisa ser lapidado. O resto, creio, virá de “tempo de jogo”.
Céu
Já passava da meia-noite quando a paulistana Céu subiu ao palco do Music Park. O público que compareceu ao espaço se apertou, ampliando a sensação de calor que emanava dali. De vestido vermelho, a cantora dominou a noite como uma grande headliner.
Senhora de si, Céu botou o Se Rasgum pra cantar em uníssono cada uma das canções apresentadas. A sinergia entre público e artista deu ao show ares de culto. Um setlist quente, sensual e suado, fruto do calor humano que dominou a pele da artista, suada como quem ecoava suas músicas. Um espetáculo verdadeiramente caloroso, digno para encerrar a primeira noite rasgada de festival.
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